Gestão colaborativa fortalece organizações socioprodutivas na Amazônia
Projeto Conexão Amazônia amplia autonomia de associações e promove capacitação em gestão, produção e comercialização
Na floresta, a força coletiva ganha ainda mais sentido. É a partir dessa premissa que o Projeto Conexão Amazônia, iniciativa do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) em parceria com a CNP Seguradora, vem transformando a realidade de organizações socioprodutivas (OSPs) em municípios como Lábrea, Tapauá, Apuí e Itapiranga, no interior do Amazonas.
Com metodologia própria desenvolvida pelo Idesam, o projeto oferece capacitação e assessoria técnica em gestão organizacional, produtiva, financeira e comercial. Mais que repassar conhecimentos, a proposta aposta na construção conjunta de soluções a partir da escuta ativa e das necessidades reais das associações e comunidades atendidas.
Diagnóstico, plano de ação e ferramentas práticas
O processo de fortalecimento segue três etapas principais: diagnóstico participativo do nível de desenvolvimento organizacional, elaboração do Plano de Desenvolvimento Organizacional (PDO) e qualificação do uso de ferramentas de gestão.
Durante as formações, são utilizadas metodologias ativas de educação popular, como simulações, rodas de conversa, visitas de campo, estudos em grupo e debates. Segundo o consultor Flávio Quental, do Idesam, essa abordagem permite integrar teoria e prática, respeitando os saberes dos territórios e potencializando o engajamento.
“O trabalho é construído com a participação ativa das pessoas em todas as etapas. O foco está nas demandas reais enfrentadas pelas associações na gestão das cadeias da sociobiodiversidade”, afirmou.

Regras claras, confiança mútua
Um dos pontos mais enfatizados nas capacitações é a importância da governança transparente. Como explicou a consultora Isabela Renó, quando há clareza nas regras internas e elas são respeitadas, os conflitos diminuem e a organização ganha legitimidade — tanto internamente quanto perante parceiros e financiadores.
“Ao assinar um CNPJ, uma organização assume compromissos legais e fiscais. Uma gestão bem feita é, antes de tudo, uma responsabilidade coletiva. E também um caminho para autonomia”, reforçou Leonardo Lopes, da Conexsus, outra entidade parceira do projeto.
A presidente da associação APADRIT, Laureni Barros, é exemplo vivo dessa transformação. Após passar pelas capacitações, ela celebra: “Hoje a gente não tem mais aquela dívida antiga. Estamos com o cofre verde. Isso é fruto de organização e gestão transparente”.
Da associação à cooperativa
Além da gestão interna, o projeto também aborda limites legais e alternativas para ampliar a atuação no mercado. Wanderley Cruz, da AACRDSU, ressalta a importância de entender o papel jurídico das organizações: “Associação não tem fins lucrativos. Quando o foco é comercialização, é preciso pensar na criação de cooperativas”.
No primeiro ano, o Conexão Amazônia elaborou cinco Planos de Desenvolvimento Organizacional com participação ativa de 313 pessoas de cinco OSPs e três organizações de juventude. Foram 238 horas de capacitação e assessoria técnica, entre encontros presenciais, reuniões on-line e os eventos “Diálogos Pró-Gestão”, que contaram com especialistas de diversas instituições.
Investimento social de longo prazo
Com investimento de R$ 2,5 milhões da CNP Seguradora, o projeto alcança diretamente cerca de 500 famílias da Amazônia, envolvendo associações em unidades de conservação, assentamentos agroextrativistas e terras indígenas — como a TI Igarapé São João, do povo Xingané Xipuary, em Tapauá.
Mais do que entregar ferramentas de gestão, o Conexão Amazônia aposta em construir autonomia, fortalecer o tecido associativo e transformar boas intenções em resultados sustentáveis. Em uma região onde o fazer coletivo é parte do cotidiano, o caminho da organização é, cada vez mais, o da liberdade.
Foto: Robson Costa