Extremos climáticos desafiam biodiversidade amazônica
Pesquisador da Ufam discute resiliência e vulnerabilidade de espécies diante das secas e cheias intensas em seminário do Inpa
A intensificação das secas e cheias extremas na Amazônia já está deixando marcas profundas sobre a biodiversidade, mas os efeitos ainda são pouco conhecidos pela ciência. Para aprofundar esse debate, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) promove, nesta quinta-feira (28), às 16h, no Centro de Convivência (prédio 97, campus 1), mais uma edição dos Seminários da Amazônia, que terá como convidado o professor Fabricio Baccaro, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Baccaro apresentará a palestra “Resiliência e vulnerabilidade da biodiversidade a extremos climáticos na Amazônia Central”, em que destacará a importância de mecanismos naturais de adaptação, como o chamado “efeito seguro”, e de áreas de refúgio ambiental na sobrevivência de espécies em meio às variações severas do clima.
A memória da floresta ligada à água
O pesquisador explica que o efeito seguro funciona como uma espécie de “caixa d’água natural”, em que a floresta acumula parte da água proveniente de chuvas intensas, armazenando-a no solo e no lençol freático. Esse estoque hídrico vai sendo liberado lentamente durante as estiagens, garantindo a umidade necessária para manter o equilíbrio do ecossistema.
“Esse mecanismo funciona como uma almofada de segurança, reduzindo os impactos das secas na maioria dos grupos estudados, como palmeiras, formigas, peixes e aves de sub-bosque”, destacou Baccaro, que há mais de 20 anos investiga a ecologia de comunidades amazônicas.
Pesquisa de longo prazo em floresta de Manaus
A palestra será também uma oportunidade de apresentar resultados do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD-IAFA), que acompanha, na Reserva Florestal Adolpho Ducke, em Manaus, as respostas de diferentes comunidades de plantas e animais aos eventos climáticos extremos.
As análises de longo prazo têm mostrado que, embora a Amazônia possua mecanismos de resiliência, a intensidade crescente dos eventos extremos pode comprometer essa capacidade de recuperação, ampliando a vulnerabilidade de espécies e ecossistemas.
Trajetória e relevância científica
Graduado em Administração e Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Londrina, doutor em Ecologia pelo Inpa e professor da Ufam, Fabricio Baccaro construiu uma carreira marcada pela interdisciplinaridade. Além de lecionar e orientar novos pesquisadores, integra importantes redes de pesquisa nacionais e internacionais, como o INCT Síntese da Biodiversidade Amazônica (SinBiAm) e o PPBio Amazônia Ocidental, além de atuar como editor e revisor em periódicos científicos de destaque.
Sua contribuição reforça a relevância dos Seminários da Amazônia, espaço regular de discussão científica realizado quinzenalmente pelo Inpa. Aberto ao público e sem transmissão online, o evento reúne especialistas para debater os principais avanços e desafios da ciência sobre o bioma amazônico.