Seleção convoca, mas não encanta: o peso da transição sem ousadia
Ancelotti chama jovens e deixa fora estrelas, mas lista soa mais como protocolo do que como projeto de futuro
A convocação da Seleção Brasileira para os próximos jogos das Eliminatórias, anunciada por Carlo Ancelotti, traz uma sensação contraditória. De um lado, o óbvio: Neymar segue fora, Vinícius Júnior e Rodrygo também não aparecem, seja por lesões, suspensões ou contexto momentâneo. De outro, a promessa de renovação, com nomes como Kaio Jorge, Estêvão e Luiz Henrique.
O problema é que essa renovação soa tímida, quase burocrática. Com o Brasil já classificado para a Copa do Mundo, esperava-se ousadia, experimentos, um aceno mais claro para a construção de um novo ciclo. O que se viu foi uma lista equilibrada, mas sem identidade.
É fato que a Premier League domina o elenco: 12 atletas atuam na liga inglesa. Isso dá peso competitivo, mas não garante novidade tática. A volta de Lucas Paquetá é significativa, mas parece mais fruto de conveniência do que de visão estratégica. No ataque, Kaio Jorge, artilheiro do Brasileirão, chega com méritos, mas ainda sem a aura de liderança que o torcedor anseia.
Essa convocação reflete um dilema: entre o receio de arriscar e a necessidade de inovar, Ancelotti optou por um caminho intermediário, que não compromete, mas também não inspira.
Torcedor entre descrença e expectativa
No Brasil, seleção é mais do que esporte — é patrimônio cultural. O torcedor, acostumado a gerações que encantavam pela ousadia, sente falta de um gesto simbólico, de um nome que convoque esperança. A lista de Ancelotti, por mais coerente que seja tecnicamente, carece de narrativa.
Não há clima de ruptura, nem sinal claro de revolução. O torcedor continua esperando o “futuro” da Seleção, mas por enquanto recebe apenas um presente morno.
O desafio de reconquistar identidade
O Brasil não precisa apenas de vitórias, precisa de um estilo, de uma ideia que devolva brilho ao manto amarelo. A convocação atual, ao priorizar o seguro, perde a chance de testar caminhos e reconectar a Seleção com sua torcida.
O que se vê é a Seleção cumprindo calendário, sem oferecer vislumbre de projeto. Se o futebol é espetáculo, o roteiro da CBF ainda parece escrito em tom de ensaio: técnico, correto, mas sem alma.
Reflexão final: O Brasil está na Copa, mas ainda não sabe com qual cara chegará lá. Entre jovens promessas e ausências sentidas, o que falta não é elenco — é coragem para ousar.