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Adeus a Ângela Ro Ro, a voz irreverente e apaixonada da música brasileira

Cantora e compositora morre aos 75 anos após complicações de saúde; pioneira ao assumir sua identidade, artista deixa legado de coragem, amizade com Cazuza e canções eternas

O Brasil se despede nesta segunda-feira, 8 de setembro de 2025, de uma das vozes mais singulares da música popular brasileira. Ângela Ro Ro, cantora, compositora e pianista, morreu aos 75 anos, no Rio de Janeiro, após sofrer uma parada cardíaca em meio a complicações de saúde decorrentes de infecções recorrentes.

Nascida em 1949, no Rio, Ângela se tornou um nome incontornável da MPB a partir do fim dos anos 1970. Seu primeiro álbum, lançado em 1979, apresentou clássicos como Amor, meu grande amor, Gota de Sangue e Agito e Uso, revelando ao país uma artista intensa, de voz rouca e carregada de emoção. O segundo disco, Só Nos Resta Viver (1980), consagrou sua carreira e vendeu mais de 800 mil cópias, tornando-a uma das cantoras mais populares da época.

Uma trajetória ousada e influente

A música de Ângela Ro Ro transitava entre o blues, o jazz, o rock e a MPB, sempre com uma assinatura própria. Canções suas foram gravadas por nomes como Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Simone, Marina Lima e Zélia Duncan. Em 2000, ela voltou a ser destaque com o álbum Acertei no Milênio, que lhe rendeu o prêmio de melhor compositora do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte.

Ângela também foi uma das primeiras artistas brasileiras a assumir publicamente sua homossexualidade, um gesto de coragem que abriu caminhos para outras gerações. Sua postura franca e sua personalidade irreverente fizeram dela não apenas uma cantora, mas também um símbolo de resistência e autenticidade.

Amizade e afinidade com Cazuza

Um dos capítulos mais marcantes de sua vida artística foi a amizade com Cazuza. O poeta do rock carioca via em Ângela uma alma tão intensa e inquieta quanto a sua. Ele chegou a chamá-la de “a versão feminina de mim mesmo”, destacando a ousadia, a sinceridade e a entrega visceral de Ro Ro no palco e na vida. Ambos, cada um a seu modo, desafiaram convenções e se tornaram ícones de uma geração que clamava por liberdade de expressão e autenticidade.

Os últimos anos e a despedida

Nos últimos anos, Ângela enfrentava sérios problemas de saúde. Em maio, chegou a relatar nas redes sociais suspeita de câncer e fez um apelo por ajuda financeira para custear tratamentos, mobilizando fãs e colegas de profissão. Apesar das dificuldades, manteve a chama da música acesa até o fim, cercada de reconhecimento e carinho do público.

O sepultamento deverá acontecer no Rio de Janeiro, em cerimônia restrita a familiares e amigos, mas já é certo que sua partida terá repercussão em todo o país. O Brasil perde uma de suas vozes mais autênticas, mas ganha para sempre o legado de uma artista que cantou com intensidade, ousadia e verdade.

Da Redação

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