EDITORIAL

Amazônia Live emociona, mas legado ambiental exige clareza e compromisso real

Espetáculo sobre o rio Guamá projetou a Amazônia para o mundo, mas carece de transparência sobre impactos, compensações e benefícios permanentes

Belém — Com Mariah Carey, Joelma, Gaby Amarantos, Dona Onete e Zaynara, o espetáculo Amazônia Live – Hoje e Sempre transformou as águas do rio Guamá em um palco monumental em formato de vitória-régia, no último dia 17 de setembro. A grandiosidade do evento, promovido por Rock in Rio e parceiros, encantou e emocionou o público, marcando o início simbólico da contagem regressiva para a COP30.

Mas, apesar do brilho, o show levanta questionamentos sobre pegada ambiental, transparência e contrapartidas reais para a região amazônica.

O evento mobilizou atenção internacional e patrocinadores de peso — como Vale, Gerdau, Heineken e Banco da Amazônia — e deve investir R$ 2 milhões em seis projetos socioambientais locais. Também será produzido um documentário sobre os bastidores e mensagens do evento.

Contudo, até o momento não foram divulgados dados sobre emissões de carbono, logística reversa, tratamento de resíduos ou compensações ambientais, pontos considerados básicos para eventos de grande porte que se propõem a defender a pauta climática.

Além disso, houve críticas sobre a ausência de transmissão ao vivo, que limitou o acesso da população local e nacional ao espetáculo.

As perguntas que precisam de resposta

Qual foi a pegada de carbono da estrutura, transporte de artistas e público?

Qual foi o plano de manejo de resíduos e de logística reversa dos materiais usados?

Como os projetos contemplados no edital serão acompanhados e avaliados?

Qual o benefício direto para as comunidades ribeirinhas do entorno do Guamá?

Sem essas respostas, o risco é que o Amazônia Live seja lembrado apenas como um show — e não como um marco de ativismo climático e transformação social.  O Valor Amazônico está a disposição para dar visibilidade a estas respostas. Quem se habilita?

Entre o encantamento e a responsabilidade

O governador do Pará, Helder Barbalho, afirmou que o evento “coloca o estado no centro da agenda ambiental global”. Já a Vale, patrocinadora master, disse que apoia o projeto como parte de seus compromissos com sustentabilidade e cultura amazônica.

O impacto cultural e turístico é inegável: fortalece a cena musical paraense, impulsiona a imagem da Amazônia e contribui para atrair atenção à COP30.

Mas, para que se torne um legado e não apenas espetáculo, será necessário publicar um relatório de impacto ambiental, apresentar planos de compensação e continuidade dos projetos, e envolver as comunidades locais na tomada de decisão e nos benefícios reais do evento.

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