Orquestra na Floresta une música clássica e saberes indígenas na aldeia Cipiá
Projeto da Prefeitura de Manaus inaugura diálogo inédito entre a Orquestra de Câmara e o grupo de música Cipiá, celebrando diversidade e identidade cultural da Amazônia
A Amazônia assistiu a um encontro histórico nesta terça-feira, 23 de setembro. A recém-criada Orquestra de Câmara de Manaus, conduzida pelo maestro Hermes Coelho, levou seu repertório até a aldeia Cipiá, às margens do rio Negro, onde se apresentou lado a lado com o grupo de música indígena da própria comunidade.
O projeto “Orquestra na Floresta”, idealizado pela Prefeitura de Manaus por meio do Conselho Municipal de Cultura (Concultura), inaugurou um espaço de diálogo entre a música erudita e a milenar sonoridade indígena, num espetáculo que emocionou moradores e convidados.

Sob a regência de Hermes Coelho, o repertório transitou entre Bach, Vivaldi e compositores brasileiros, costurado pelos cantos ancestrais e pelos instrumentos do povo Cipiá. Para o maestro, mais do que um concerto, a experiência foi uma missão de aproximação. “As pessoas precisam ter acesso a isso, viver essa experiência ao vivo. Quando você leva a música até a comunidade, desperta algo. Que possamos continuar indo a lugares que não têm acesso, porque é para isso que a orquestra existe”, afirmou emocionado.

O presidente do Concultura, Tony Medeiros, destacou que a iniciativa é “muito mais do que um concerto”, ressaltando que Manaus é uma cidade que respeita e valoriza sua diversidade cultural. Levar a orquestra até a floresta, para dialogar com os saberes indígenas, significa abrir novos caminhos de convivência, aprendizado e reconhecimento das nossas raízes.”

Vozes da floresta
O impacto foi profundo também para os anfitriões. O cacique Domingos ressaltou que receber a Orquestra de Câmara no território é um gesto de reconhecimento:
“A partir de hoje começa o nosso maior encontro, que esperávamos desde o início. É um grande privilégio prestigiar esta orquestra na floresta. Muito emocionante. Mais uma vez, parabéns a todos nós.”

Para os jovens indígenas e nortistas presentes, como Cayo Ferro, a experiência fortaleceu a sensação de pertencimento: “O maior sentimento é de emoção porque, enquanto nortista, sempre achei que não éramos protagonistas. Este evento mostra que a arte indígena merece os holofotes tanto quanto qualquer outro estilo musical.”
Cultura que aproxima
Mais do que apresentação artística, o “Orquestra na Floresta” nasce como política cultural que busca descentralizar o acesso à arte, aproximar mundos distintos e reforçar a identidade amazônica em sua diversidade.
Ao unir músicos da cidade e povos originários em um mesmo palco, o projeto reafirma que a cultura da Amazônia é plural, viva e em constante diálogo, capaz de inspirar novas gerações e fortalecer o patrimônio imaterial da região.
Fotos: João Viana/Semcom