EMPREGOSAÚDE

Saúde mental no trabalho em xeque

País vive crise sem precedentes, com aumento de afastamentos e impacto direto na produtividade

A pressão por resultados, prazos curtos e a cobrança constante por desempenho têm transformado o estresse em um dos maiores desafios dos ambientes corporativos atuais. O tema ganha ainda mais relevância às vésperas do Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado em 10 de outubro, data que convida à reflexão sobre o impacto do adoecimento psíquico na vida de trabalhadores e no equilíbrio das empresas.

Dados do Ministério da Previdência Social confirmam a gravidade do quadro: somente em 2024 foram registrados 472.328 afastamentos por transtornos mentais, o maior índice em pelo menos uma década. O crescimento de 68% em relação ao ano anterior sinaliza uma crise sem precedentes na saúde mental dos brasileiros, com efeitos diretos sobre a produtividade e o bem-estar no trabalho.

Nesse contexto, a função de segurança do trabalho ultrapassa a dimensão física e passa a incorporar também a esfera psicológica. Para Vinicius Raymison dos Santos, coordenador do curso de Enfermagem e da especialização em Saúde do Trabalhador do Centec, a atuação preventiva é estratégica:

“O profissional atua na mitigação de riscos psicossociais, implementando protocolos que reduzem fatores desencadeadores de sofrimento mental. Com análises ergonômicas, diagnósticos ambientais e instrumentos de vigilância em saúde ocupacional, ele ajuda a construir um ecossistema laboral equilibrado”, explica.

Burnout: a face mais visível da exaustão

Entre os vários transtornos relacionados ao estresse, a síndrome de Burnout é a que mais evidencia a conexão direta entre adoecimento e mundo do trabalho. Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2019 como um fenômeno ocupacional, a síndrome já integra a Classificação Internacional de Doenças (CID-11) no Brasil.

Cansaço extremo, desmotivação e queda de desempenho são alguns dos sintomas. Para Raymison, prevenir o Burnout exige medidas coletivas e individuais: “Adequação da carga horária, redistribuição justa das demandas, fortalecimento do apoio psicossocial e práticas de autocuidado baseadas em evidências científicas são determinantes para evitar a exaustão crônica”.

O tema também tem sido retratado na ficção. Na novela Vale Tudo, em exibição atualmente, o personagem Renato, vivido por João Vicente de Castro, recebeu o diagnóstico de Burnout após desmaiar em função do uso de medicamentos para suportar a sobrecarga de trabalho. O episódio expôs para milhões de telespectadores a realidade de muitos brasileiros.

Responsabilidade compartilhada

Embora cada trabalhador tenha seu papel na prevenção, as empresas também são corresponsáveis pela criação de ambientes laborais saudáveis. Isso significa valorizar profissionais, oferecer programas de suporte psicológico e estimular culturas organizacionais humanizadas.

“Quando a corporação respeita as singularidades dos colaboradores e adota práticas de cuidado, o resultado é um ambiente mais equilibrado e produtivo”, afirma o especialista do Centec.

A crise de saúde mental no trabalho, portanto, não pode ser ignorada. Reconhecer a dimensão do problema e investir em políticas de prevenção e apoio psicológico é um passo essencial para transformar o cenário e devolver ao trabalho o que ele deve ser: espaço de realização e não de adoecimento.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo