Mulheres, juventude e voto verde: a nova geração que renova a política amazônica
Em meio a crises ambientais e desigualdade social, cresce na Amazônia uma geração de lideranças femininas, indígenas e jovens que quer transformar a floresta em centro de decisão política e não apenas cenário eleitoral.
A Amazônia está vivendo um novo ciclo político — e, desta vez, quem fala pela floresta são as mulheres, os jovens e os guardiões da sustentabilidade.
A poucos meses do início do calendário eleitoral de 2026, uma onda de lideranças locais começa a redesenhar o mapa do poder nos nove estados da Amazônia Legal, com discursos que unem justiça social, bioeconomia e identidade cultural.
É um movimento silencioso, mas consistente: de professoras, agricultoras, pesquisadoras, indígenas, quilombolas e estudantes que enxergam a política como extensão da luta pela vida e pela dignidade — não como território de privilégios.
O que está em jogo é mais do que a eleição: é a redefinição de quem tem voz no futuro da floresta.

O protagonismo das mulheres da Amazônia
Em 2026, o eleitorado feminino representa mais da metade dos votos da região.
Mas o número de mulheres eleitas ainda é inferior a 20% nas assembleias legislativas e câmaras municipais da Amazônia Legal.
Agora, uma nova geração está decidida a romper essa barreira — inspirada por nomes como Djuena Tikuna, cantora e ativista indígena; Nádia Ferreira, advogada socioambiental; e Verônica Karam, líder comunitária do Baixo Amazonas.

“Durante muito tempo disseram que política não era lugar de mulher. Agora a gente entende: a política é o nosso lugar de defesa”, afirma Djuena Tikuna, em entrevista ao Valor Amazônico.
Essas mulheres conectam território, espiritualidade e gestão pública com um discurso de sustentabilidade afetiva — que fala de cura da floresta e reconstrução coletiva.
Elas vêm das margens, mas estão conquistando espaço nos centros de poder.
Juventudes da floresta: política como futuro
A geração pós pandemia — formada em redes digitais e consciente da crise climática — chega ao processo eleitoral de 2026 com nova linguagem e novas ferramentas.
Jovens de comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas têm se organizado em coletivos como o “Vozes da Floresta”, o “Juventude Ribeirinha em Movimento” e o “Amazônia de Pé”, que atuam na formação política e no combate à desinformação.

“A juventude não quer ser apenas eleitora, quer ser parte da decisão. Estamos cansados de votar em quem não conhece o cheiro da chuva ou o som do igarapé”, diz Luan Arara, 22 anos, estudante e mobilizador do Alto Rio Negro.
Esses movimentos estão mudando a dinâmica do voto.
Com maior acesso à tecnologia, os jovens amazônicos tornaram-se multiplicadores digitais de engajamento político, influenciando comunidades inteiras por meio de vídeos curtos, podcasts e transmissões ao vivo.
A floresta está, literalmente, falando por si nas redes.
O voto verde como consciência geracional
A defesa ambiental deixou de ser pauta ideológica para se tornar identidade cultural.
Pesquisas do Instituto Amazônia Dados, realizadas em 2025, mostram que 72% dos jovens da região consideram o meio ambiente o tema mais importante da próxima eleição — acima de segurança, emprego e educação.
Para eles, votar verde é votar em sobrevivência.
Essa percepção cria uma nova forma de engajamento político:
em vez de promessas imediatistas, essa geração pede planejamento de longo prazo, políticas de reciclagem, transporte limpo, energia solar, proteção de rios e investimento em economia sustentável.
“Não há futuro se a floresta morrer. E a floresta morre quando a gente se cala”, resume Inara Paiva, 19 anos, estudante de Santarém e participante do coletivo “Jovens pela Amazônia”.
Da periferia à floresta: novos espaços de poder
Nas periferias de Manaus, Belém, Santarém e Rio Branco, multiplicam-se escolas populares de formação política e iniciativas comunitárias que capacitam mulheres e jovens para ocupar cargos públicos.
O projeto “Mandata da Floresta”, criado em parceria entre universidades e ONGs, já prepara candidaturas coletivas voltadas à defesa dos direitos territoriais e à inovação social.
Esses movimentos propõem uma política menos vertical e mais cooperativa, baseada em redes e causas, não em partidos.
São experiências que nascem da Amazônia, mas inspiram o Brasil inteiro — uma política que se ramifica, diversa e regenerativa, como a própria floresta.
Um novo ciclo para a democracia amazônica
A série Amazônia nas Urnas encerra com o retrato de um tempo em que a política amazônica passa da resistência à criação.
Mulheres, jovens e comunidades tradicionais não estão apenas reagindo à crise — estão projetando um novo modelo de poder, mais inclusivo, justo e enraizado no território.
A Amazônia que vai às urnas em 2026 é diferente: mais consciente, conectada e propositiva.
E sua mensagem ao país é clara — não haverá democracia plena sem democracia na floresta.
Fotos: Agência Brasil e FAS


