DESTAQUETECNOLOGIA & INOVAÇÃO

Pesquisadores do Amazonas criam modelo de UTI portátil, inteligente e de baixo custo

Inovação promete aumentar a eficiência e reduzir os custos dos atendimentos médicos de emergência, beneficiando especialmente os municípios do interior, que sofrem com a falta de estrutura

Com objetivo de suprir a carência de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) em municípios do interior que não têm condições orçamentárias de instalar os equipamentos disponíveis no mercado, pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em parceria com o Instituto de Tecnologia e Educação Galileo da Amazônia (Itegam), desenvolveram um novo sistema, compacto, portátil e inteligente, que visa aumentar a eficiência e reduzir os custos dos atendimentos médicos de emergência, beneficiando especialmente as regiões mais isoladas. Estima-se que o modelo criado tenha um orçamento 60% a menos que a estrutura convencional.

A nova tecnologia é uma das inovações cadastradas pelo Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), coordenado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), para captação de investimentos junto a empresas da Zona Franca de Manaus (ZFM), obrigadas por lei a repassar 5% do faturamento bruto para projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).

A motivação para o desenvolvimento do sistema veio da carência de leitos de UTI no interior do Estado, onde a falta de estrutura de atenção a pacientes graves obriga a dependência e o risco de longas viagens de barco ou transporte aéreo de emergência até a capital.  “Diante da pandemia da Covid-19, ideias que estavam estacionadas nos laboratórios foram aceleradas e questões críticas na saúde, como a disponibilidade de UTI, ganharam prioridade”, afirma o pró-reitor de inovação tecnológica da UFAM, Waltair Vieira Machado.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a disponibilidade de 2,4 leitos de UTI para cada grupo de 10 mil habitantes. O Brasil tem índice médio de 2,1, que cai para a metade quando se considera apenas a rede pública de saúde. Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), no início da pandemia, menos de 10% dos municípios brasileiros tinham UTI em diferentes níveis de capacidade, o que deixou desassistida a maior parte da população do país.

Segundo Machado, as regiões remotas da Amazônia apresentam uma situação de demanda difusa que inviabiliza o uso dos aparelhos convencionais, em função da baixa concentração de atendimento e da falta de profissionais e serviços de manutenção.

Como solução, o novo sistema é totalmente automatizado e integra dentro de um único módulo os equipamentos mínimos associados a um leito de UTI: monitor cardíaco e de pressão arterial, oxímetro de pulso, eletrocardiógrafo e ventilador mecânico, entre outros, que deixam de ser utilizados de forma separada e passam a dialogar entre si para dar suporte às intervenções médicas, por meio de inteligência artificial.

A praticidade permite fácil locomoção e uso em qualquer posto de saúde. “Isso tudo se reflete no aumento da cobertura por UTI nessas regiões, ampliando a capacidade dos governos diante de situações emergenciais”, destaca o pró-reitor.

Custo 60% menor

Além de aumentar eficiência, a unificação dos aparelhos reduz custos por uma combinação de fatores, como a possibilidade de uma melhor logística de fornecedores. Os pesquisadores estimam que o modelo portátil com inteligência artificial tenha custo em torno de R$ 80 mil a unidade, contra R$ 200 mil dos sistemas importados, sem esse diferencial de inovação.

“O plano é primeiro expandir no Amazonas e depois no resto do país”, revela o diretor-presidente do Itegam, instituição voltada a projetos tecnológicos na educação e indústrias de Manaus, Jandecy Leite.

A meta é fornecer 150 leitos de UTI até o fim do ano para o governo estadual, com prioridade para uso no interior, entre os quais 30 unidades deverão ser instaladas no Hospital Universitário Getúlio Vargas, da UFAM.

Sobre o PPBio

O Programa Prioritário de Bioeconomia é um dos quatro programas prioritários criados para o aporte de parte dos investimentos em P&D oriundos da Lei de Informática (Lei nº 13.674, de 11 de junho de 2018) na área de atuação da Suframa.

O mecanismo está voltado para o apoio a projetos inovadores no campo da bioeconomia, desenvolvidos por Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), startups, incubadoras e empreendedores.

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