Vereador Amom denuncia distribuição de cestas básicas com alimentos fora do prazo de validade
Segundo o parlamentar, o processo licitatório, no valor de R$ 2,1 milhões, previa a compra de 15 mil cestas básicas para serem distribuídas às famílias pobres, em situação de vulnerabilidade social, por conta da pandemia da covid-19
O ouvidor-geral da Câmara Municipal de Manaus (CMM), vereador Amom Mandel (sem partido), denunciou nesta quarta-feira (11/08) um esquema de corrupção dentro da Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania de Manaus (Semasc) e na Comissão Municipal de Licitação (CML), órgão vinculado à Casa Civil de Manaus. Segundo o parlamentar, o processo licitatório envolvendo a compra de 15 mil cestas básicas foi concluído de maneira no mínimo estranha, em março deste ano por meio do Portal de Compras e Licitações da Prefeitura Municipal de Manaus. O procedimento licitatório ultrapassa o valor de R$ 2,1 milhões.
A empresa que ofereceu o menor valor nos lances de preço foi preterida pela empresa T R do Nascimento Fornecimento de Alimentos Eireli, que ofereceu no certame de compra governamental um dos maiores preços para a aquisição das 15 mil cestas básicas, R$ 140,00 por unidade. A TR foi responsável posteriormente pela entrega doa produtos aos Centros de Referências de Assistência Social (CRAS), que viabilizou a distribuição dos alimentos vencidos às famílias em estado de vulnerabilidade da capital amazonense.
“Além do processo de licitação não ter sido concluído eletronicamente, tampouco foi dado publicidade nos canais de transparência da prefeitura municipal, como constatado no portal de compras governamentais municipais, Manaus comprou os alimentos de uma empresa que vendeu os itens mais caros que os oferecidos outras empresas. Para se ter uma ideia, uma cesta básica com 29 itens custou R$ 140,00 a unidade. Na licitação, empresas ofereceram os mesmos produtos por R$ 88,00 ou R$ 90,00”, afirmou Amom Mandel.
Depois de pagar mais caro, a prefeitura liberou para distribuição às famílias carentes de Manaus, cestas básicas com produtos vencidos e com menos itens do que os licitados. Amom afirma que a constatação veio durante fiscalização nos CRAS que atendem moradores em vulnerabilidade.
O ouvidor-geral da CMM afirma que após diligências de fiscalizações em várias unidades dos CRAS e no Centro de Distribuição da Semasc, ficou constatado que servidores foram coagidos a atestarem os recebimentos das cestas com itens vencidos e acobertarem o crime.
“Imagens feitas dentro das unidades mostram que em um dos CRAS, uma servidora afirma ter recebido um ligação telefônica para liberar a entrada de outros servidores, para retirar irregularmente os itens vencidos. Assim, o município estava encobrindo a empresa que é a responsável legal pela venda e entrega das cestas. Ou seja, a prefeitura compactuou com o ato, pois é ilegal o município pagar por mais itens, receber uma quantidade menor e vencida, e depois disso obrigar servidores a deixar que funcionários públicos trocassem ou retirassem os produtos que não poderiam ser mais consumidos. E pior, depois, essas cestas foram entregues para famílias com menos itens que o acordado em licitação”, explicou Amom Mandel.
Cestas Básicas
De acordo com a licitação, em cada cesta básica deveria conter 29 itens, sendo dois quilos de açúcar cristal, cinco quilos de arroz do tipo agulhinha, um pacote te bolacha cream cracker, embalagem com 400g, um pacote de café, torrado e moído, em pó, com selo de pureza abic com 500g, dois quilos de farinha de mandioca, amarela, dois quilos de feijão carioca, tipo 1, dois pacotes de leite, tipo integral, em pó, pacote com 400g, dois pacotes de macarrão espaguete, embalagem com 500g, dois óleo de soja, embalagem com 900ml, dois sal, tipo comum, refinado, iodado, embalagem com 1kg, quatro latas de conserva de salsicha, lata com 180g e quatro conservas de carne bovina, lata com 320g.
Além disso, o edital também previa que os produtos deveriam estar dentro dos prazos de validade. Porém, nas fiscalizações, o vereador e sua equipe encontraram cestas com 14 a 20 itens. Alguns dos produtos também foram substituídos por outros mais baratos. É o caso da carne enlatada, que foi substituída por sardinha.
O leite em pó integral, que consta na licitação, foi trocado pelo Composto Lácteo, de qualidade e preço inferiores ao constante na licitação. O produto é dos que estavam vencidos e foram entregues para a população.
“É triste saber que alguém atestou que esses produtos vencidos e outros bem próximos dos vencimentos, estavam aptos a serem consumidos pela população. Mais grave é saber que essa distribuição continuou ocorrendo sem freio até que soubessem que havíamos descoberto o caso”, explicou Amom.
O biscoito cream-cracker constante nas cestas também estava com data vencida. Já o café em pó foi entregue pela metade. O município licitou um pacote de 500g por cesta básica, mas entregava apenas um pacote de 250g. Mesmo com todas essas incoerências, servidores fiscais do contrato atestaram que os produtos estavam dentro da conformidade.
A licitação teve como vencedora a empresa T R do Nascimento Fornecimento de Alimentos Eireli, de nome fantasia Nutrilog.
Amom Mandel
Vereador mais jovem a integrar a mesa diretora da CMM, Amom Mandel tem 20 anos de idade. O parlamentar foi o responsável pela ação que adiou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), durante o pico da pandemia de Covid-19 em todo Amazonas. Amom também revelou a lista dos servidores municipais que furaram a fila de vacinação contra o novo coronavírus, quando o país distribuía as primeiras doses da Coronavac.
Ouvidor-geral da CMM, Amom Mandel denunciou no começo do ano a cobrança indevida de até 40% a mais no valor do Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). Após ampla divulgação provocada por Amom, o chefe do executivo municipal recuou e anunciou que não iria cobrar mais caro pelo imposto, porém não revogou a Lei com o aumento após ter anunciado.
Fotos: Divulgação/Ouvidoria-CMM