DESTAQUEESPECIAL PARINTINS 2025

Talento e resistência brilham no Festival de Parintins

Mais que visibilidade, artistas LGBTQIAPN+ conquistam respeito e protagonismo nos bastidores criativos dos bois Caprichoso e Garantido

PARINTINS – Presentes desde os primórdios do Festival Folclórico de Parintins, nascido em 1965 sob o olhar tradicional da Igreja Católica, integrantes da comunidade LGBTQIAPN+ sempre exerceram forte influência na estética e na criatividade dos bois Caprichoso e Garantido.

Se nas décadas de 1960 e 1970 atuavam de forma mais discreta e invisibilizada, foi nos anos 1980 que começaram a conquistar visibilidade — não por concessão, mas por mérito. Talento, ousadia e excelência artística fizeram com que esses profissionais ganhassem espaço e respeito, rompendo barreiras históricas de preconceito. Conheça a trajetória de três nomes que ajudam a construir, nos bastidores, o maior espetáculo folclórico a céu aberto do planeta.

Wendy Delevingne: talento em vermelho

Aos 26 anos, Wendy Delevingne é figurinista do Boi Garantido e assina as indumentárias do Amo do Boi, João Paulo Faria. Natural de Parintins, ela começou no boi-bumbá Espalha Emoção, da zona rural do município.

“Mesmo antes de ser figurinista oficialmente, eu já criava acessórios. É um dom que carrego. Com o tempo, fui convidada para trabalhar em outros festivais até que, em 2021, entrei para o Garantido”, conta.

Ela tem como referências nomes como Helerson Maia, Fabson Rodrigues e Rafael Andrade. “O Helerson já levou suas criações para fora do Brasil. Admiro muito, mas hoje procuro manter certa distância para preservar minha própria identidade artística”, revela.

Wendy também compartilha a dor do preconceito vivida desde a infância. “Na escola, por ser mais delicada, sofria chacota. Era uma criança retraída. Com o tempo, aprendi a focar em mim. Hoje, me tornei a mulher que sempre quis ser”, diz com firmeza.

“A arte me salvou. Sou uma mulher trans que deu certo, não por ser melhor, mas porque tive apoio da minha família e encontrei respeito no boi. A arte é uma ferramenta poderosa de inclusão”, afirma.

Elton Graça: juventude e acolhimento

Aos 24 anos, Elton Graça representa a nova geração de artistas do Festival. Trabalha como figurinista do Boi Caprichoso desde 2023, depois de atuar como assistente no ano anterior.

“Fui considerado figurinista revelação. Isso me impulsionou. Em Parintins, o que não falta é talento. Hoje o cenário é mais aberto à criatividade, embora os desafios ainda existam”, analisa.

Elton se declara bissexual e destaca o respeito que encontrou. “Nunca sofri preconceito dentro do boi. Pelo contrário, fui muito acolhido. Sou grato ao ex-presidente Jender Lobato e ao atual, Rossy Amoedo, que respeitam todos os artistas.”

Ele também faz questão de homenagear quem abriu caminho. “Aprendi muito com o Rafael Andrade, de quem fui assistente. Também sou grato ao Kildery Ferreira, ao William Muniz e ao Edwan Oliveira, que confiaram no meu trabalho.”

Waldir Santana: pioneirismo e resistência

Waldir Santana é um dos grandes nomes da história do Festival de Parintins. Atuou como figurinista, coreógrafo, artista de tribos, membro do Conselho de Artes, e Pajé — posto que ocupou por quase 30 anos no Boi Caprichoso.

Começou no Garantido, passou ao Caprichoso em 1986, voltou ao vermelho, e enfim consolidou sua trajetória no azul até 2017. Hoje, mesmo fora da arena, segue ativo nos bastidores.

“Na Parintins dos meus 15 anos era muito difícil. Eu era discreto, não me declarava gay, tinha namoradas. Mas sentia o peso da discriminação”, conta. “O que me salvou foi a educação da minha mãe e o talento. Sempre me impus com respeito e competência.”

Waldir destaca que jamais foi desrespeitado dentro dos bois. “Fiz por merecer. E sempre ouvi um conselho que levei a sério: estude! O artista gay Waldir Santana e o personagem Pajé andaram juntos. E isso deu certo”, afirma, com orgulho.

Festival, inclusão e patrocínio

Palco de lutas por visibilidade, o Festival de Parintins se tornou também símbolo de resistência e celebração da diversidade. O evento conta com apoio do Governo Federal (MinC e Ministério do Turismo), do Governo do Amazonas (por meio da SEC), da Prefeitura de Parintins e de um robusto grupo de patrocinadores: Coca-Cola Brasil, Mercado Livre, Esportes da Sorte, Brahma, Bradesco, Petrobras, Assaí Atacadista, Eneva, Azul Linhas Aéreas, Natura, Bemol, Gree, Vivo, Elma Chips, Samel – Planos de Saúde e Cielo.

Entre as estrelas da arena e os bastidores das alegorias, o Festival se reinventa ano após ano — e segue sendo território de afirmação para artistas que ousam transformar o mundo com beleza, coragem e autenticidade.

Com colaboração de Chris Reis e Roberto Sena (Maná Produções e Eventos)

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