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Com o coração da Amazônia, Garantido vence o 58º Festival de Parintins e conquista o 33º título

Boi da Baixa do São José brilhou em itens históricos e artísticos, emocionou a galera e venceu por 1,3 ponto de diferença, reafirmando sua força simbólica, cultural e popular

Por Dora Tupinambá (*)

A arena do Bumbódromo voltou a pulsar em vermelho nesta segunda-feira (30/6), após a apuração oficial consagrar o Boi Garantido como campeão do 58º Festival Folclórico de Parintins. Com apresentações de intensa carga simbólica e artística, o boi da Baixa do São José conquistou seu 33º título, somando 1.259,0 pontos contra 1.257,7 do Caprichoso, numa das disputas mais equilibradas dos últimos anos.

O Garantido acordou campeão, Parintins ainda vibra, e o Brasil inteiro sente o eco desse 33º título que foi conquistado com garra, cultura e alma amazônida.

Com o tema “Boi do Povo, Boi do Povão”, o Garantido apresentou um espetáculo que exaltou a origem popular e a força coletiva da Amazônia. A vitória não foi obra do acaso: foi construída em cada batida da Batucada, em cada verso do amo do Boi, em cada passo de sua tripa Adenildo Piçana, e na emoção de sua galera. O boi vermelho e branco encarnou o povo amazônida em sua essência — e foi justamente por isso que brilhou mais forte no Bumbódromo.

Itens em que o Garantido superou o Caprichoso

A apuração das notas revelou uma performance sólida do Garantido em itens decisivos. O boi vermelho venceu, com vantagem expressiva, em dez quesitos, sendo: Apresentador, Amo do Boi, Porta-Estandarte, Sinhazinha da Fazenda, Rainha do Folclore, Cunhã-Poranga Isabelle Nogueira, Figura Típica Regional, Alegoria, Vaqueirada e Organização do Conjunto Folclórico.

Além disso, obteve empate técnico em outros quesitos como Galera, Toada, Pajé e Ritual Indígena, o que confirma a consistência e a excelência das três noites de apresentação.

A performance de seus itens individuais — com destaque para a evolução da Cunhã-Poranga Isabelle Nogueira e da Rainha do Folclore Rayssa Barros — foi celebrada pelo público e pelos jurados, pontuando com a máxima em quase todas as noites. A Vaqueirada emocionou ao evocar a resistência rural com poesia e precisão cênica, enquanto as Alegorias encantaram por sua exuberância estética e narrativa fluida.

Uma vitória da emoção e da identidade

O Garantido venceu com arte, mas também com sentimento. Sua proposta se conectou profundamente com o espírito do povo amazônida, tocando temas como a ancestralidade indígena, os saberes tradicionais, o sagrado da floresta e a luta pela preservação do território. A galera, como sempre, foi um espetáculo à parte — vibrando, cantando, coreografando cada momento com a alma.

A diferença de 1,3 ponto no resultado final foi suficiente para marcar o nome do Garantido mais uma vez na história do festival. Mas a maior vitória foi afetiva: conquistar o coração do público e reafirmar sua missão cultural como um boi que representa o povo, suas dores, suas lutas e suas alegrias.

Garantido é resistência cultural

A conquista do 33º título representa mais do que um troféu. É a celebração de uma identidade coletiva, viva, orgulhosa de suas raízes. É também um lembrete da importância da cultura popular como instrumento de afirmação política, social e ambiental. O Garantido se fez vitorioso com arte e coragem — e Parintins respondeu com lágrimas, aplausos e reverência.

Em tempos de incerteza, o Boi Garantido é certeza: a de que a Amazônia tem voz, cor, ritmo e memória. E, em 2025, essa memória brilhou mais uma vez em vermelho.

(*) Colaboradora do Valor Amazônico

Fotos: Andreza Jorge (Valor Amazônico)

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