BRASILDESTAQUE

Derretimento político de Bolsonaro ganha contornos irreversíveis

Pesquisa Quaest revela queda contínua na confiança popular e aponta para esvaziamento de sua força como líder da direita

A política brasileira, tão marcada por reviravoltas, testemunha agora um movimento que parecia impensável há poucos anos: o esvaziamento da imagem de Jair Bolsonaro. Pesquisa da Genial/Quaest mostra que a reputação do ex-presidente sofre um derretimento progressivo, cada vez mais difícil de conter.

Segundo o levantamento, mais da metade da população brasileira acredita que Bolsonaro participou de um plano para subverter o resultado das eleições e que a prisão domiciliar determinada pelo ministro Alexandre de Moraes é justa e necessária. Esse dado desmonta uma das principais narrativas bolsonaristas — a de perseguição política — e coloca em xeque sua capacidade de mobilizar massas como no auge de 2018.

Um processo de erosão lenta, mas constante

A pesquisa indica que não se trata de um acidente de imagem, mas de uma erosão consistente. A cada rodada, cresce a percepção de que Bolsonaro não é apenas um personagem polêmico, mas alguém envolvido em atos que atentam contra a democracia. Se no passado ele surfava na polarização, hoje enfrenta um desgaste que mina suas bases.

O dado mais simbólico é que, mesmo entre parte de seus antigos apoiadores, começa a prevalecer a ideia de que o ex-presidente exagerou os limites da provocação e passou a ser responsável por sua própria crise. Essa mudança de percepção é decisiva porque mostra o enfraquecimento de sua blindagem política, aquela que antes o protegia de qualquer escândalo.

O preço de viver da tensão permanente

Bolsonaro construiu sua carreira apostando na tensão, no confronto e na lógica de “nós contra eles”. Essa retórica o levou ao poder e manteve seu nome em evidência mesmo após deixar a Presidência. Mas, como toda estratégia de conflito permanente, há um custo: o desgaste acelerado. O que antes inflamava sua base, hoje parece cansar parte da sociedade, que já não se dispõe a defendê-lo com o mesmo vigor.

Essa fadiga política abre espaço para novas lideranças no campo da direita, capazes de dialogar com o eleitorado conservador sem carregar o peso dos processos e das acusações criminais.

Entre julgamento e legado

Às vésperas de um julgamento decisivo no Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro chega enfraquecido. Sua imagem pública, medida pelas pesquisas, já não sustenta a narrativa de vítima, e seu legado político passa a ser questionado até mesmo por setores que antes lhe eram fiéis.

O “derretimento” de sua reputação, apontado pela Quaest, não é apenas estatístico: é simbólico. Representa o fim de um ciclo de ilusões em que parte do país acreditou que era possível atacar instituições e ainda assim manter apoio majoritário. O Brasil parece ter dado um passo à frente, deixando para trás um líder que, ao apostar no confronto, viu sua própria força se dissolver.

Reflexão final: Bolsonaro, que um dia concentrou em si a esperança de milhões, hoje se vê às margens do jogo político. Não é exagero dizer que sua figura já pertence mais à memória do que ao futuro.

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