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Enquanto projeto Pé-de-pincha está parado, curumins do Andirá protegem a reprodução de quelônios

Agora que pesquisadores e ambientalistas se foram, com a pausa no projeto, os meninos da floresta abraçam com unhas e dentes a proposta de manejo comunitário de quelônios

Elzimar (Mambira), Alexandre (Xande), Jocimar (Tonico) eles eram de suma importância, em uma das fazes do projeto Pé-de-pincha que tinha em suas principais parcerias a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Petrobrás, aliás, esses curumins, caçadores aquáticos de quelônios, acompanhavam o projeto nas suas quatro fases, colaborando, por acreditarem piamente, que estavam trabalhando na construção de um futuro melhor pra sua gente, abraçando com unhas e dentes, a proposta da sustentabilidade, através do manejo comunitário de quelônios, proposto pelo projeto, para que no futuro, a alimentação da sua gente estivesse garantida.

Mambira, Xande e Tonico, dentre outros curumins adolescentes – que esporadicamente participavam dessa labuta – se destacavam pela coragem e vontade de ajudar a equipe, os três eram, definitivamente, os que estavam sempre dispostos a botarem a mão na água, nadando em busca, do que, só eles eram capazes; mergulhar para com as mãos, caçar tracajás, iaçás e tartarugas e quando conseguiam o seu intento, vinham, alegremente sorrindo com suas prendas nas mãos.

Coleta, eclosão, monitoramento e soltura, essas eram as quatro fases que incorporava o projeto, eram todas feitas juntamente com a população ribeirinha nas áreas onde a necessidade de preservação se fazia necessária, nesse caso, especificamente, nas comunidades do Rio Andirá.

Monitoramento! Essa era a fase onde os meninos entravam em cena, e necessariamente, de fundamental importância suas presenças e funcionava, assim: eles saiam de voadeira ou de canoa com os técnicos do Pé-de-Pincha levando os equipamentos precisos; como antena, rede de pesca, tudo pronto para observar os quelônios que tinham sidos “chipados” em outros exercícios. O trabalho era através de sinal de rádio, acompanhar o trajeto feito pelos quelônios na região, documentar fatos que poderiam prejudicar ou favorecer o trabalho de conservação desses recursos naturais.

A outra parte era colocar redes de pesca na boca dos lagos, igapós ou igarapés, para capturar os quelônios; soltar os já “chipados” e “chipar” os que ainda não tinham sido marcados.

A parte mais difícil dessa fase, era quando a antena dava o sinal da existência dos bichos de casco no meio da mata alagada, aí exigia o talento de Mambira, Xande e Tonico. Os garotos percebiam o que nós não víamos, enxergavam tudo e a gente só via as folhas lambendo as águas trazidas pelo banzeio. De repente eles caiam n’água, aí entendíamos que eles tinha visto algo, e nós, sem ver nada, ficávamos olhando desaparecerem por entre as águas, as folhagens e até por entre as canaranas, quando menos esperávamos, boiavam com um quelônio nas mãos segurando e sorrindo felizes pelo feito, que pra nós era quase impossível.

Como vencer a velocidade de um quelônio e captura-lo dentro d’água com as mãos? “Poizé, manuzinho”; pra Mambira, Tonico e Xande é galho fraco, é simples assim; mergulhar no desconhecido só precisa de coragem, determinação e talento pra depois sentir na pele, que o desconhecido faz parte de você.
A técnica, que desenvolveram, empiricamente, pra pegar um bicho de casco n’água, é simples: quando os viam de “bubuia”, não nadavam sobre a água – na mesma linha – mergulhavam, iam por baixo e os pegavam de surpresa.

E assim, esses meninos agiam, fazendo esse trabalho alegremente, como se estivessem brincando de pega-pega, e, ainda apostavam para quem pegasse o primeiro, ou quem acumulasse a maior quantidade. Eles eram bem tratados e respeitados como qualquer membro da equipe, pois tinham uma pós graduação, imputada pela “Faculdade da Vida Aquática” como nenhum tinha.

Essa é uma homenagem que faço à esses curumins; trabalhadores “anfíbios, que nasceram em terra, mas se sentem a vontade na água. Os via, aquando prestava serviço para o projeto e achava incrível o que eles faziam.

O Projeto Pé-de-Pincha, com esse tsunami que aconteceu na economia brasileira, deu uma parada, justo porque, a Petrobrás, sua principal patrocinadora, não pode mais arcar com seu patrocínio.

O interessante deste capitulo dramático – que travou um trabalho de extrema necessidade, para as comunidades ribeirinhas – é que, o projeto parou, mas os “cabocos”, seguem sozinhos, pondo em pratica tudo o que aprenderam, e, fase por fase, acentuam, ainda mais, o verde da esperança para gerações futuras.

A conservação dessa espécie, pelo Projeto Pé-de-Pincha foi efetivo em várias comunidades do nosso estado, recuperando a população de quelônios que estavam quase à beira da em extinção.

Texto e fotos: David Almeida, especial para o Valor Amazônico

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