COLUNASOreni Braga

COMO ANDA A HOTELARIA INDEPENDENTE NO BRASIL?

por Oreni Braga

Os hotéis independentes representam cerca de 70% da oferta hoteleira no Brasil. Porém, manter as portas abertas desses que foram locais de extraordinária ocupação, nos anos 80 e 90, por conta do charme, luxo e mimo que cada uma oferecia individualmente aos seus clientes, independentemente da sua classificação no ranking de estrelas, está se tornando tarefa cada vez mais difícil.

Para piorar, esses empreendedores se deparam com inovações na área de acomodação que são extremamente predadores, como é o caso da plataforma Airbnb que além de não recolher tributos e obrigações trabalhistas, conseguiu transformar o comportamento de muitos clientes que buscavam por esses pequenos hotéis, e que passaram a optar por quartos independentes em residências ou apartamentos, com preços bem mais em conta, mesmo podendo enfrentar desconforto e insegurança.

Atrelado a tudo isso, ainda é evidente a necessidade desses hotéis que resistem ao tempo, sem bandeira nacional e internacional, buscarem novos modelos na gestão de seus negócios e acompanhar as tendências do mercado e se manter competitivo. Enquanto as redes hoteleiras investem em canais de distribuição, promoção da marca, busca de talentos, a maioria dos pequenos hotéis se mantém estagnada no tempo.

Mas, como investir, inovar e promover sem capital de giro? Sobretudo, diante de uma pandemia que foi o tiro de misericórdia para o fechamento de muitos e o endividamento de outros?

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – ABIH Nacional, 95% dos hotéis independentes continuam fechados e aqueles que estão abertos o índice de ocupação é quase zero. O Presidente Nacional da ABIH, Manoel Linhares destacou em entrevista recente ao Jornal de Turismo Mercados & Eventos que a liberação de crédito é necessária para que haja a retomada desses empreendimentos.

Para isso, o Ministério do Turismo firmou uma parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento – BNDES, visando impulsionar o turismo com o PRODETUR – Programa Nacional de Desenvolvimento e Estruturação do Turismo + Turismo. Ocorre que as regras são claras em determinar que para o acesso aos recursos, os estados e municípios devem emprestar, ou seja, se endividar. Não é a fundo perdido. 

Poucos municípios turísticos do país ou quase nenhum tem condições de endividamento, sobretudo após essa pandemia do COVID-19. Portanto, esse dinheiro não chegará à ponta, a não ser que os governos estaduais tomem para si a responsabilidade do empréstimo e busquem preparar melhor esses destinos.

Na mesma toada, os hoteleiros que necessitam de empréstimo junto aquele agente financeiro devem seguir o rito, ou seja, estar em dia com as obrigações fiscais, tributários e sociais; ter capacidade de pagamento; dispor de garantias suficientes para cobertura do risco da operação, entre outras exigências.

Então, quais desses empresários que já vinham sofrendo baixa na ocupação em seus hotéis antes da pandemia, e que depois dela praticamente fecharam as suas portas, tem condições de oferecer capacidade de pagamento em curto prazo? Por certo muitos estão sem capital de giro, com dívidas junto ao fisco, ou seja, não atendem as exigências cadastrais.

Então qual é a saída? Nesse momento, ou os governos auxiliam esses hoteleiros com financiamentos de prazos dilatados, concedem anistia fiscal e aceitam como garantia os próprios empreendimentos, ou o Brasil vai viver um das maiores quebradeiras já inimaginável. E o pior de tudo é que a retomada do fluxo turístico será doméstica, e a demanda para esse tipo de hotel é muito grande, por oferecer uma tarifa mais em conta.    

No Amazonas, o cenário é mais preocupante. O Turismo de Negócios está devagar e o turismo internacional continua com fronteiras fechadas, então só resta preparar a retomada dos hotéis para o turismo nacional e regional até que tudo se normalize.

Todavia, é necessário um mutirão de entidades governamentais, destacando as do Governo do Estado (Agência de Fomento -AFEAM, Secretaria de Planejamento e Secretaria de Fazenda – SEFAZ, além da Secretaria Municipal de Finanças do Município de Manaus e os Órgãos Competentes do Setor), com a participação efetiva dos empresários, para trabalhar um Programa Emergencial de Incentivo e Fomento ao Setor Hoteleiro do Amazonas, no qual contemple uma linha de financiamento específica, com prazo dilatado para iniciar o pagamento, em no mínimo 02 anos, e que seja concedida a anistia fiscal dos débitos que estão impedindo o acesso ao crédito.

Sem isso, não vamos conseguir ver a luz no fim do túnel!


Oreni Braga é Mestre em Gestão e Auditoria Ambiental, Especialista em Ecoturismo, Planejamento e Gestão de Parques e Design de Ecolodges.


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