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Jornalistas em greve são demitidos da empresa Calderaro de Comunicação

Seis profissionais dos jornais A Crítica e Manaus Hoje foram demitidos após três dias de paralisação

Mesmo em processo de negociação com o Sindicato dos Jornalistas do Estado do Amazonas (SJP-AM) e Ministério Público do Trabalho (MPT), o grupo de comunicação compreendido pelos jornais A Crítica, Manaus Hoje e Portal A Crítica, demitiu seis trabalhadores da redação que estavam em greve desde a última segunda-feira, 7. Outro que também foi demitido ontem, quarta-feira, foi advogado Júlio Antônio Lopes, que há mais de duas décadas trabalhava no grupo.

Na lista de demitidos estão o editor de Cidades, Diamantino Júnior, os fotógrafos Antônio Lima, este editor de Fotografia, e Winnetou Almeida, os editores do Caderno A, Cinthia Guimarães e de Esportes, Denir Simplício e o diagramador João Felipe.

Os trabalhadores da redação que abriga os jornais A Crítica e Manaus Hoje entraram em greve após sucessivos períodos de atraso de pagamento dos salários, além dos depósitos de FGTS e INSS, o que resulta numa dívida de mais de R$ 2,5 milhões.

Ontem, inclusive, por videoconferência, houve uma reunião entre o procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Manaus, Marcos Gomes Cutrim, a presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado do Amazonas (SJP-AM), Auxiliadora Tupinambá, representantes de secretarias Municipais de Economia e Finanças (Semef) e Comunicação (Semcom) e os representantes da Empresa Jornais Calderaro, como o diretor executivo, Herval Tapajós Folhadela e a diretora de redação, Aruana Brianezzi.

A reunião foi provocada pelo MPT a partir do noticiário informando da paralisação motivada pelo atraso no pagamento de salários. A empresa, conforme destacou o advogado Enysson Barroso, reconhece a dívida junto aos funcionários referentes as folhas integrais de pagamento dos meses de julho, agosto e primeira quinzena de setembro de 2020.

O objetivo era viabilizar o pagamento de dívidas da Prefeitura com a empresa, mas os valores apresentados pela rede de comunicação não conferiram com os apresentados pela Prefeitura. Outra reunião está marcada para acontecer amanhã, 11.

Sindicato

A presidente do SJP-AM, Auxiliadora Tupinambá, solicitou da empresa a apresentação de uma contraproposta de acordo, ainda que por e-mail para ser previamente analisada, mas foi surpreendida com as demissões.

Para Auxiliadora, a atitude vem em represália ao movimento grevista. “Embora a empresa admita a dívida e tenha concordado em direcionar o valor que tem a receber da Prefeitura de Manaus para o pagamento dos trabalhadores, age dessa forma”, disse ela, citando o início da contratação de freelancers para substituir os profissionais em greve.

Durante a audiência, o SJP-AM apresentou proposta de acordo à empresa, mantendo a abertura do diálogo e da negociação, além de manter 30% da mão de obra trabalhando, em uma demonstração de boa vontade dos profissionais para com a empresa. “Mas a direção da empresa se negou a fechar acordo e começou a demitir os grevistas, inclusive o delegado de redação, representante dos trabalhadores na direção do sindicato”, lamentou.

A empresa se nega, inclusive, a regularizar os profissionais freelancers que prestam serviço sem quaisquer direitos trabalhistas há mais de ano, cumprindo horário de trabalho e escala, em uma clara demonstração de violação da legislação trabalhista.

Depoimentos

Após 27 anos de trabalho no Jornal A Crítica, o editor de Fotografia, Antônio Lima, 61, lamenta que tenham deixado chegar a uma situação dessas. “Vivemos bons momentos lá, fizemos boas matérias contribuindo para a empresa chegar aonde chegou. Agora, fizemos o movimento na perspectiva de tentar resgatar a dignidade dos trabalhadores que estão lá ainda, alguns passando necessidades por conta dos atrasos no pagamento”, disse Lima.

O editor de Cidades, Diamantino Júnior, lamenta que a demissão seja a única resposta da empresa às reivindicações dos trabalhadores. De acordo com ele, os cerca de 20 funcionários que não entraram em greve, principalmente os do Portal A Crítica, começaram a receber parte dos direitos que vinham sendo negados. “Isso mostra que a empresa tem recursos, mas não quer resolver o problema”, explicou ele,

Nota do Jornal A Crítica

No início da noite, a direção do Jornal A Crítica divulgou uma nota repudiando o movimento paredista, considerado ilegal pela empresa. De acordo com o jornal, o movimento organizado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas – SJPAM “atropela os procedimentos disciplinados na Lei nº 7.783/89, aproveita-se de um momento econômico vulnerável para atuar na contramão do progresso”.

A empresa cita a marca de 12 milhões de desempregados no Brasil no 2º trimestre deste 2020 para destacar os esforços do jornal e empresas parceiras para preservar seus postos de trabalho. Afirma que não deixará que sua história de mais de 70 anos de existência seja maculada por atitudes reprováveis de pessoas com valores, ideais e comportamentos contrários aos da empresa.

A direção informa ainda que, independente da manutenção ou não do movimento grevista, já começou a cumprir os compromissos firmados com SJP-AM e continuará a trabalhar para regularizar suas obrigações e seguir na preservação dos postos de trabalhos diretos e indiretos.

Matéria atualizada às 20h35

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