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Centro histórico de Manaus guarda memórias enterradas que ajudam a entender o passado

O centro histórico de Manaus – tombado pelo Iphan, em 2012 – foi uma das primeiras áreas ocupadas da cidade e era intensamente ocupada por várias etnias indígenas

Ana Celia Ossame

O Centro Histórico de Manaus permite interpretar o passado e apreender um tempo presente apenas na memória guardada pelos documentos, livros, jornais, fotos e demais publicações. Destaca-se os cemitérios indígenas e os prédios históricos construídos durante o período da economia da borracha
É a região mais antiga da cidade, por onde chegaram, no século XVII, que ocuparam este local, já habitado por várias etnias indígenas como os barés, baniwas, passés, manaós, aroaquis, juris, entre outras.

Naquela área, banhada pelo Rio Negro, caminho usado pelos exploradores portugueses, no ano de 1669, foi erguido um forte, batizado com o nome de Fortaleza da Barra de São José do Rio Negro, iniciando-se o povoamento local, conforme registro de vários historiadores. De acordo com o artista plástico e professor de História da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Otoni Mesquisa, no livro “Manaus –História e Arquitetura (1852-1910), eles já haviam instalado as primeiras povoações do Rio Negro, onde se agrupavam índios das mais diversas nações, fato relatado por Francisco Xavier de Sampaio, em 1825, no Diário da viagem e correição das povoações da Capitania de São José do Rio Negro.

Projeto da Fortaleza do Rio Negro

Um dos registros mais antigos da construção da fortaleza está no diário de viagem do Ouvidor Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio quando visitou as povoações da então Capitania de São José do Rio Negro em 1774-1775, conforme registro de Otoni Mesquita, no seu livro Manaus: História e Arquitetura (1852-1910).

Alguns historiadores como José Ribamar de Bessa Freire, apontam que a fortaleza foi construída sobre um cemitério indígena, simbolizando todo o objetivo do processo colonial iniciado até então.

Para reforçar essa tese, houve a descoberta de grande cemitério indígena durante obras de recuperação da Praça Dom Pedro II, no ano de 2003 e também nas obras do Paço Municipal, antiga sede da Prefeitura de Manaus, que em 2013, na inauguração das obras de restauração, foi colocado sob um piso de vidro e uma iluminação especial que permite ver os achados arqueológicos.

DANOS IRREPARÁVEIS

Há, ainda, achados semelhantes em vários outros locais de Manaus, como na Zona Norte, onde foi construído o Conjunto Nova Cidade. Este sítio é considerado pelo Ministério Público Federal (MPF) como um dos maiores da América Latina.

Planta da cidade de Manaus em 1852

Acionado pela reportagem, o MPF informou, em nota, ter ajuizado ação civil pública contra o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), a Secretaria de Estado de Habitação (Suhab) e as construtoras BAUKRAFT, CAPITAL, RAYOL, SOAFIL, SOMA, CONTEC, ENGEPLAN E J. NASSER, visando a reparação integral dos danos causados ao patrimônio cultural representado pelo Sítio Arqueológico Nova Cidade, além do pagamento de indenização a título de ressarcimento.

O desmatamento, extração mineral e terraplanagem resultaram na destruição do sítio arqueológico de grandes proporções (possivelmente o maior sítio conhecido na América Latina), informou o MPF.

O órgão informou que em 2018, foi instaurado procedimento extrajudicial para acompanhar a tramitação da ação civil pública em razão de tratativas que estavam em curso com a finalidade de celebrar acordo judicial. Mas a invasão, ocorrida no ano de 2018, da área do sítio inviabilizou a continuidade das tratativas, encerrando-se o procedimento extrajudicial.

O processo, que tramita na 7ª Vara Federal do Amazonas, está em fase de alegações finais, na qual o MPF já se manifestou favorável à condenação de todos os processados. A ação aguarda julgamento. A movimentação processual pode ser consultada por meio do site da Justiça Federal (https://processual.trf1.jus.br/consultaProcessual/processo.php).

O MPF já obteve decisão liminar, decretada em dezembro daquele ano, determinando que todos os ocupantes do Sítio Arqueológico Nova Cidade se retirem do local.

IPHAN

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão responsável que responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro, destacou a relevância dos achados arqueológicos para a cidade de Manaus e comunidades indígenas em comunicação oficial destinada à Advocacia Geral da União (AGU), no sítio arqueológico da Praça Dom Pedro II, proporcionando um reencontro com o passado colonial da cidade, fato importante para o resgate da presença indígena na história da cidade e também do Estado do Amazonas.

Foto: Divulgação

One thought on “Centro histórico de Manaus guarda memórias enterradas que ajudam a entender o passado

  • Parabéns pela reportagem sobre o Centro Histórico de Manaus.
    Verdadeiro resgate para termos como referência e para que se olhe com mais seriedade o nosso passado.

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