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Mulheres protagonizam oficina de transição agroecológica em Apuí, sul do Amazonas

Modelo de agricultura sustentável melhora proporciona inúmeros benefícios sociais, ambientais e econômicos, além de possibilitar maior recompensa pelo mercado, se forem certificados

O Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam) atua no município de Apuí, região Sul do estado, desde 2006, promovendo a agricultura regenerativa por meio da implementação de Sistemas Agroflorestais (SAF) responsáveis por produzir o primeiro café agroflorestal orgânico da Amazônia, o Café Apuí.


E, a partir do ano passado, em parceria com startup reNature, o instituto passou a desenvolver diversas atividades com foco na capacitação técnica da comunidade local, no fortalecimento de associações de produtores e na difusão e melhoria de práticas e técnicas agrícolas nos sistemas agroflorestais. A parceria seguirá até 2023.

Entre os dias 25 e 29 de agosto, 45 moradoras do município de Apuí participaram de uma atividade nascida de uma demanda delas para conseguir prosperar mais na atividade de cultivo de hortaliças. O workshop de hortas agroecológicas para mulheres e jovens, recebeu financiamento da organização LB Foundation, mobiliza produtoras das associações de produtores familiares Ouro Verde (APFOV) e de Mulheres Agricultoras do Setor Três Estados (Amast).
Passado esse primeiro módulo prático, a programação de capacitação deve ser retomada em março de 2022, com uma segunda parte, também de forma presencial, mas realizada ao longo do ano.

Ministrada por Maria de Fatima Zuazo, presidente da Associação Maniva de Certificação Participativa e integrante da Associação de Produtores Orgânicos do Amazonas (Apoam), a iniciativa tem como propósito viabilizar a continuidade da agenda de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) junto às associações durante a pandemia e diante das restrições de atividades presenciais e coletivas.

Foram realizadas oficinas com o objetivo de envolver, capacitar e empoderar mulheres e jovens das comunidades de Apuí, por meio da produção de hortas orgânicas que garantam a segurança alimentar e diversifiquem a renda familiar.
Para Marina Yasbek Reia, coordenadora de projetos do Idesam em Apuí, o workshop alia a geração de conhecimento à promoção do empoderamento entre as mulheres e jovens participantes, por meio de conceitos relacionados à transição agroecológica. Esse trabalho mais concreto com foco em gênero teve início em 2020, com apoio da GIZ, a Agência Alemã de Cooperação Internacional.


“Essa transição oferece aos agricultores a oportunidade de melhora em sua produção e comercialização, mas sem sobrecarregar seus custos – além da possibilidade de maior recompensa pelo mercado, se forem certificados. De modo geral, é uma transição para um modelo de agricultura sustentável que proporciona inúmeros benefícios sociais, ambientais e econômicos”, explica a coordenadora.

Segundo ela, a escolha por um público totalmente feminino tem explicação no próprio contexto vivido pelas participantes da atividade. “As mulheres precisam de ações e projetos que sejam especialmente delineados para atender às especificidades de suas rotinas de trabalho doméstico e externo e demais fatores limitantes historicamente ignorados. Da mesma forma, a temática das capacitações deve nascer da própria demanda observada na rotina dessas mulheres, a fim de apoiar o desenvolvimento de ações capazes de empoderar de fato essas mulheres como responsáveis pela atividade de produção e comercialização de hortaliças”, argumenta.

Mudança de rotina
De acordo com a produtora Patrícia Coutinho Francisco, foram absorvidas muitas práticas novas para aplicação nas hortas, como conhecimentos sobre o controle de pragas e doenças. “Também aprendemos a fazer cobertura de solo e a mantê-lo com mais umidade, usando a bananeira. Aprendemos a produzir biofertilizante, que é um adubo foliar essencial, e ainda o composto. Enfim, é com esse aprendizado que vamos nos tornar produtoras orgânicas. Amei esse curso e fiquei muito feliz com o que aprendi”, revela.


Já Elia Lucas Alevs afirma que a iniciativa a auxiliou em algumas dificuldades que tinha com o solo local. “O nosso solo é muito carente de nutrientes. Como é muito aberto e já tinha pastagem há muito tempo, para eu poder recuperar e fazer a minha horta tinha muita dificuldade com pragas. Acredito que, de agora em diante, eu só vou usar essas técnicas, pois estou cansada de fazer de um outro jeito que não funcionava”, confessa a produtora, ressaltando que todos os produtos da sua horta também serão consumidos em casa.

“Como tudo é muito orgânico, vai me trazer uma confiança a mais de pôr isso na minha mesa. Já até coloquei em prática na minha horta, com biofertilizante e biomassa pronta. O que eu puder passar para as meninas aqui da associação eu vou passar, porque eu creio que isso vai ajudar muito”, finaliza Elia.

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