Presença negra no Amazonas inspira história, resistência e legado
Contribuição afro-amazonense em áreas como cultura, saúde, educação e infraestrutura moldou a identidade regional e fortalece a luta por igualdade
O Dia da Consciência Negra, celebrado neste 20 de novembro, convida à reflexão sobre o impacto histórico, social e cultural do povo negro na formação do Amazonas. Desde o período colonial, afrodescendentes desempenharam papéis fundamentais no desenvolvimento da região, enfrentando desafios com coragem e resistência, enquanto deixavam contribuições inestimáveis em diversas áreas.
Essa história de luta se manifesta em espaços simbólicos que preservam a memória e a cultura negra, como o Quilombo do Barranco de São Benedito, no bairro Praça 14 de Janeiro, e Seringal Mirim, localizado no bairro São Geraldo, os dois em Manaus.
Quilombo do Barranco de São Benedito: Símbolo da Resistência Negra Urbana
Fundado por descendentes de escravizados maranhenses no final do século XIX, o Quilombo do Barranco mantém vivas tradições culturais e religiosas, como os festejos dedicados ao padroeiro São Benedito. Esses rituais representam a devoção e a valorização da identidade afro-amazonense, resistindo ao tempo e às transformações urbanas. Em 2014, foi reconhecido como o segundo quilombo urbano do Brasil, reafirmando sua importância como um espaço onde cultura, memória e luta pela igualdade se entrelaçam, mesmo diante das pressões da urbanização.
Localizado no bairro Praça 14 de Janeiro, em Manaus, o Quilombo do Barranco de São Benedito é um marco da resistência negra urbana no Amazonas. Fundado por descendentes de escravizados maranhenses no final do século XIX, o quilombo mantém vivas as tradições culturais e religiosas, como os festejos de São Benedito, padroeiro da comunidade, unindo devoção e valorização da identidade afro-amazonense.
Em 2014, foi reconhecido como o segundo quilombo urbano do Brasil. Mesmo diante da urbanização crescente, o quilombo permanece como um espaço de resistência, onde cultura, memória e luta pela igualdade se encontram.
Seringal Mirim e o racismo ambiental
Outro exemplo de resistência negra no Amazonas é o Seringal Mirim, localizado no bairro São Geraldo, que abrigou mulheres negras e viúvas oriundas do Maranhão e do Amazonas nos anos 1940. Essas mulheres, muitas vezes chefes de família, sustentavam-se lavando roupas para as elites de Manaus.
Apesar de sua relevância histórica, a comunidade foi alvo de negligência e apagamento, evidenciando o racismo ambiental que ainda persiste. O Seringal Mirim simboliza as lutas diárias enfrentadas por comunidades negras em contextos urbanos.
Contribuições
O impacto da população negra no Amazonas se estende a várias áreas. Na saúde, parteiras e curandeiros afrodescendentes transmitiram saberes ancestrais que ainda hoje influenciam a medicina tradicional. Na educação, figuras como Nestor José Nascimento, advogado e ativista que liderou o Movimento Negro no Amazonas nos anos 1980, foram fundamentais para a promoção da igualdade racial e a luta por direitos.
Na cultura, a presença negra é marcante na música, na culinária e nas artes. Artistas como Amarildo Silva, um dos maiores representantes do samba no estado, e movimentos como o Bloco do Barranco, reafirmam a beleza e a força da herança africana em solo amazonense.
Eduardo Ribeiro e Nestor Nascimento
Eduardo Ribeiro, governador do Amazonas de 1890 a 1891 e de 1892 a 1896, foi uma das personalidades mais emblemáticas da história afro-amazonense. Ele liderou um período de modernização em Manaus, sendo responsável pela construção de marcos históricos como o Teatro Amazonas e a infraestrutura urbana da cidade, incluindo os primeiros sistemas de saneamento básico.
Outra figura de destaque é Nestor Nascimento, que dedicou sua vida à promoção da igualdade racial e à valorização da cultura negra no estado. Ele é lembrado por sua coragem e dedicação ao combate ao racismo institucional e à ampliação de oportunidades para a população negra.
Desafios Contemporâneos
Embora o povo negro tenha desempenhado um papel central na formação do Amazonas, os desafios permanecem. O racismo estrutural e as desigualdades sociais ainda afetam a população negra de forma desproporcional. Dados revelam que a população afrodescendente continua a enfrentar maiores taxas de desemprego, acesso desigual à saúde e à educação, além de uma representação limitada nos espaços de poder.
Reflexão e Compromisso
O Dia da Consciência Negra é um chamado à ação, não apenas à celebração. Reconhecer a força, a coragem e a beleza da contribuição afro-amazonense são fundamentais para construir um futuro mais justo e igualitário. A memória de figuras como Eduardo Ribeiro e Nestor Nascimento deve inspirar as próximas gerações a continuar a luta por direitos e dignidade.
O legado do povo negro no Amazonas está presente na arquitetura, nas artes, na culinária, nos valores de resistência e na busca incansável pela justiça. Este dia é um tributo à resiliência e ao impacto duradouro da população afrodescendente na história do estado e do Brasil.
Fotos: Ilustração