REGIÃO AMAZÔNICASEGURANÇA

Facções criminosas se espalham por cidades da Amazônia Legal, aponta estudo

Levantamento aponta que 260 municípios, o equivalente a 33,7% das cidades da região, registram atuação de grupos ligados ao narcotráfico; Crescimento chegou à 46%

Em 2024, houve um aumento de 46% no total de municípios da Amazônia Legal com atuação de facções criminosas, conforme aponta o estudo “Cartografias da Violência na Amazônia”, divulgado nesta quarta-feira (11/12), pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em colaboração com o Instituto Mãe Crioula (IMC). O levantamento aponta que 260 municípios, o equivalente a 33,7% das cidades da região, registram atuação de grupos ligados ao narcotráfico.

Segundo o estudo, o Comando Vermelho (CV) é a organização criminosa mais interiorizada, presente em 130 municípios. Em seguida, o Primeiro Comando da Capital (PCC) domina 28 cidades. Outras facções também são bastante atuantes em alguns estados, como o Bonde dos 40, no Maranhão, e os Piratas dos Solimões, no Amazonas, que concentram suas atividades em roubos de cargas e contrabando de drogas provenientes de países da região andina, composta por nações da América do Sul como Colômbia, Peru e Bolívia.

O estudo também identificou uma tendência de estabilização dos conflitos entre as facções, com uma queda no número total de grupos ativos: de 22 facções em 2023 para 19 em 2024. No entanto, a dinâmica do crime organizado continua em constante transformação, com divergências, formação de novos grupos e alianças dentro do sistema prisional que impulsionam a expansão territorial dessas organizações.

O crescimento das facções criminosas na Amazônia tem agravado a situação da segurança pública, não só em relação ao tráfico de drogas, mas também com o impacto sobre as comunidades locais, como ribeirinhos, extrativistas e indígenas. A violência associada ao narcotráfico e ao controle territorial tem levado a um aumento de homicídios e outros crimes violentos.

A pesquisa apontou, por exemplo, que a chegada das facções criminosas ao interior da Amazônia tem também amplificado a violência de gênero, especialmente contra mulheres indígenas, ribeirinhas e negras. Em muitos casos, o crime organizado regula conflitos e intervém em situações de violência doméstica, punindo mulheres que se relacionam com membros de facções rivais ou que rompem esses relacionamentos. As punições podem variar de humilhações públicas a assassinatos.

A violência de gênero, associada à expansão do crime organizado, tem dificultado a implementação de políticas públicas eficazes de proteção às mulheres em situação de violência doméstica. A presença de facções criminosas nos territórios impede muitas mulheres de denunciar abusos, devido ao medo de retaliação. Em muitos casos, a aplicação da Lei Maria da Penha torna-se inviável, já que as medidas protetivas de urgência não podem ser monitoradas de forma eficaz em áreas dominadas por facções.

A Amazônia Legal, composta por nove Estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão), abrange 772 municípios e é responsável por 61,9% da Pan-Amazônia. Cercada por países fronteiriços como Bolívia, Peru, Colômbia e Venezuela, a região se torna um ponto estratégico para o tráfico transnacional de drogas e armas, como identificou o levantamento.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo