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Castanha da Amazônia vira ativo digital e atrai investidores para a bioeconomia

Startups ForestiFi e Zeno Nativo unem tecnologia blockchain e sociobiodiversidade em projeto pioneiro de tokenização

A castanha da Amazônia, um dos produtos mais tradicionais da sociobiodiversidade regional, ganhou uma nova função: servir de lastro para ativos digitais. A iniciativa é fruto da parceria entre a fintech manauara ForestiFi e a startup paraense Zeno Nativo, que lançaram no mercado o primeiro projeto de tokenização da castanha amazônica, transformando a safra em oportunidade de investimento sustentável.

Em abril, as empresas converteram 1.850 quilos de castanha em 4.588 tokens, vendidos a R$ 25 cada, arrecadando R$ 114,7 mil junto a 82 investidores. O retorno, previsto para setembro, projeta valorização de 6,7%, com cada token sendo resgatado a R$ 26,69. O resultado movimentará R$ 122,4 mil, repassados diretamente para mais de 50 famílias extrativistas do Rio Acará (PA).

Inovação financeira para a floresta em pé

De acordo com Glauco Aguiar, cofundador da ForestiFi, a proposta vai além da especulação financeira. “Mostramos que a castanha extraída anualmente é um ativo legítimo, capaz de servir como lastro para captação de recursos. Isso permite que pequenos produtores, historicamente excluídos do sistema financeiro, tenham acesso a capital”, explica.

A ForestiFi já havia testado o mecanismo com outros produtos da sociobiodiversidade, como cacau nativo, pirarucu de manejo e guaraná selvagem, mas a castanha sempre foi vista como aposta estratégica. Para além da blockchain, o processo envolve análises de governança, segurança jurídica e contábil, fundamentais para garantir a confiança dos investidores e a sustentabilidade do modelo.

Cadeia fortalecida com impacto social

Na outra ponta, a Zeno Nativo, fundada por Zeno Gemaque e Coi Belluzzo, atua no beneficiamento e comercialização de produtos da floresta junto a comunidades tradicionais. Desde 2012, já comercializou mais de 15 toneladas de castanha e cinco de cacau fino, preservando 17 mil hectares de floresta nativa.

“Vamos comprar e beneficiar cerca de 6,9 mil quilos de castanha, envolvendo mais de 50 famílias extrativistas do Rio Acará. Nosso trabalho garante rastreabilidade e valoriza práticas socioambientais que mantêm a floresta em pé”, ressalta Gemaque. Atualmente, a startup mantém parceria com 300 famílias extrativistas, atendendo mercados que priorizam sustentabilidade.

Alternativa frente ao avanço do desmatamento

O Pará, estado de origem da Zeno Nativo, enfrenta desafios socioambientais severos. Em 2024, registrou o maior índice de desmatamento do Brasil: 1.260 km² devastados, segundo o Imazon. Nesse contexto, a diversificação das cadeias produtivas com produtos da sociobiodiversidade surge como estratégia de resistência.

“A tokenização é também uma ferramenta de fortalecimento organizacional, melhorando práticas de gestão e elevando a competitividade dos produtos amazônicos”, destaca Glauco. O próximo passo pode incluir a tokenização de outras cadeias, como o cacau nativo.

Reconhecimento internacional

A ForestiFi já estruturou seis projetos de tokenização na Amazônia, captando quase meio milhão de reais em apenas dois anos. Esse esforço lhe garantiu posição entre as startups de sustentabilidade mais inovadoras do mundo no ranking Change 100, promovido pela plataforma We Make Change com apoio da Microsoft e da Techstars, anunciado em abril em Paris, durante o evento Change Now.

“Esse reconhecimento abre portas para novas conexões internacionais e reforça a relevância do trabalho que desenvolvemos. Queremos consolidar a ForestiFi como referência global em tokenização de ativos da natureza”, afirma Glauco.

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