CIDADANIACULTURADESTAQUE

Aluno autista, da rede municipal de ensino, usa tintas e pincéis para retratar a própria vida

Henrique Figueira, que já teve obras expostas na Europa, fará a primeira exposição individual neste domingo (30/8) na hípica Nissin Pazuello, na rua Fortaleza, Adrianópolis, na zona Centro-sul

 “Criando e Brincando com as cores” é o título da exposição de pinturas do estudante da rede municipal de ensino, Henrique Figueira, de onze anos, diagnosticado com autismo e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), e que desde os sete anos, encontrou nos desenhos uma maneira para se expressar e, retrata a própria vida. A atividade, que no início tinha como objetivo ajudar o menino a ficar mais calmo, virou arte e ganhou o mundo.

As obras de Henrique Figueira estarão em exposição, a partir deste domingo (30/8), na Nissin Pazuello, localizada na rua Fortaleza, bairro Adrianópolis, na zona Centro-sul, no horário das 9h às 13h. O estudante, que já teve obras expostas na Europa, fará sua primeira exposição individual.

De acordo com a professora de Henrique Figueira, Leda Ramos de Araújo, por conta do autismo, o aluno desenvolveu um quadro de insônia crônica, chegando a ficar 24 horas sem dormir. Com muita energia para gastar, é na arte da pintura que ele se encontra.

Aluno do 3º ano do ensino fundamental, da escola municipal Maria Rufina, bairro Alvorada 1, zona Oeste, o pequeno artista passa mais de 12 horas criando e, no ano passado, iniciou o processo de pintura em tela com pincéis de pelo. Ele possui um acervo com mais de mil desenhos.

Como a maioria das crianças autistas, Henrique têm dificuldades de comunicação e de socialização. Segundo a professora, é por meio dos desenhos, realiza mesmo à distância um trabalho de inclusão, para o ajudar a interagir com os coleguinhas quando as aulas presenciais retornarem.

“Por meio de vídeos, comecei a incentivá-lo a se expressar da melhor forma. Aos poucos, estamos trabalhando a inclusão e quando as aulas presenciais voltarem, ele estará preparado para interagir com as outras crianças, isso é o mais importante. Trabalhamos a inclusão da melhor forma possível, vamos trabalhar por meio da arte, já que é o que ele mais gosta de fazer”, disse Leda, que auxilia o estudante por meio de atividades enviadas por vídeo.

A mãe de Henrique, a pedagoga Theila Anjos, afirma que a escola foi fundamental para o desenvolvimento do filho. “O quadro do meu filho é muito delicado, há sobrecarga sensorial em todos os sentidos. Ele é muito hiperativo, não consegue frequentar a escola diariamente, mas no período que ele frequentou foi muito bem acolhido pela professora e pelos colegas. Quando ele começava a pintar, as outras crianças se aproximavam dele, era uma forma de interagir”, disse.

A rede municipal desenvolve um trabalho focado na inclusão, respeito e autonomia dos mais de cinco mil alunos matriculados na educação especial. Segundo a subsecretária de Gestão Educacional da Secretaria Municipal de Educação (Semed), Euzeni Araújo, o esforço dos educadores tem sido fundamental e mostra o compromisso de todos na construção de uma educação humana e transformadora, que reconhece o direito à aprendizagem de todos, sem exceção.

Exposições

Os coleguinhas de Henrique não foram os únicos que se encantaram pelos desenhos dele. As obras do estudante também chamaram a atenção da artista plástica amazonense, Rejane Melo, que há cinco anos desenvolve um trabalho com crianças no Ateliê de Artes. Foi ela que conseguiu levar as obras do pequeno artista para exposições nacionais e internacionais.

“Me sensibilizei com a história do Henrique, com a rotina que ele divide com a mãe e logo percebi o talento para as artes. A pintura o deixa leve, o faz feliz, a cada nova arte ele canta e dança, todo mundo percebe o poder que os desenhos têm sobre ele. Tive a felicidade de levar alguns trabalhos dele para a exposição uma exposição na Noruega, projeto que rendeu para ele o certificado de artista internacional”, comenta Rejane.

Henrique também faz parte de outro projeto fora do Brasil, o “Dias de Reclusão: antologia literária”, que conta com a participação de 102 autores de 14 países, sendo ele o único autista. Trata-se de um catálogo internacional, que virou e-book, será comercializado e tudo o que for arrecadado com as vendas será doado para instituições de caridade.

“Henrique participa de todos os eventos que o ateliê é convidado, tanto nacional, como internacional. São eventos que reúnem artistas de vários locais do mundo. Todas as atividades que ele produz são aproveitadas, com isso valorizamos os trabalhos produzidos. A alegria dele nos cativa e o talento nos encanta, por isso decidimos fazer a exposição ‘Criando e Brincando com as cores’, que terá somente com as obras dele”, explica Rejane.

Pular para o conteúdo