Em Manaus, sementes de futuro são plantadas com as mãos da infância
Prefeitura transforma espaço do Saica da zona Leste em um refúgio verde com pomar e canteiro de medicinais, unindo educação ambiental, cidadania e saúde no coração da Amazônia urbana
Em meio ao concreto e à correria da zona Leste de Manaus, brotam novas raízes de esperança. No bairro Jorge Teixeira, um pedaço da cidade ganhou vida nova nesta quarta-feira (2/7), com a implantação de um pomar e canteiro de plantas medicinais no Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (Saica). A ação da Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Mudança do Clima (Semmasclima), marca mais do que o plantio de mudas — é um gesto simbólico e prático de cuidado com o futuro e com a terra.
Ali, entre os muros do abrigo, 48 crianças e adolescentes plantaram com as próprias mãos 170 mudas frutíferas e 224 mudas de espécies medicinais. Acerola, açaí, bacaba, araçá-boi, boldo, capim-santo — cada planta agora é também uma lição viva sobre biodiversidade, alimentação saudável e pertencimento.
“A gente não planta só árvores, a gente planta possibilidades”, afirma Fransuá Matos, secretário da Semmasclima. Para ele, colocar crianças em contato direto com a terra é uma forma poderosa de educação ambiental e construção de cidadania. “Eles não só vão colher os frutos literalmente, mas vão crescer com o senso de que cuidar do meio ambiente é também cuidar uns dos outros”, completa.

A ação vai além do cultivo de hortas: ela faz parte de uma política ambiental mais ampla de Manaus, que mapeia vazios urbanos e transforma áreas degradadas em pomares urbanos, devolvendo à população espaços que antes eram marcados pelo descarte irregular de lixo. Esses locais, agora verdes, oferecem sombra, alimento, saúde e beleza — uma resposta concreta às demandas de uma metrópole amazônica que precisa equilibrar crescimento e sustentabilidade.
Segundo a professora Francilucia Cavalcante, coordenadora do Saica, cuidar das plantas também se tornará uma prática diária e terapêutica. “Eles acordam, regam, observam. É um tempo de silêncio, de cuidado. Muitos saem daqui com outros sonhos. Quem sabe um dia teremos engenheiros agrônomos que começaram nessa terra aqui”, diz.

Durante a atividade, a comunidade do entorno recebeu doações de mudas frutíferas, ornamentais e medicinais, fortalecendo a relação entre o abrigo e o bairro. Também houve rodas de conversa sobre preservação da biodiversidade local, com destaque para espécies como o sauim-de-coleira, primata ameaçado e símbolo da fauna urbana de Manaus.
Com ações semelhantes já implantadas em bairros como Mauazinho, Monte das Oliveiras e Nova Cidade, além de escolas e unidades de saúde, a prefeitura tem apostado na natureza como aliada da educação, da saúde e da cidadania. E, no meio da Amazônia, não poderia ser diferente.
Ali, onde o concreto já parecia vencer, nasce uma floresta possível — feita de sonhos, mudas e mãos pequenas com vontade de cuidar.