Parintins 2025: A Amazônia dança no coração do mundo
O maior espetáculo cultural da floresta se prepara para receber mais de 120 mil pessoas, exaltando saberes ancestrais, identidade amazônica e o poder criativo dos povos da ilha
Por Dora Tupinambá
Parintins não é apenas palco. É território sagrado de memória, resistência e beleza. Quando junho se aproxima, a ilha de Tupinambarana pulsa mais forte, como se cada árvore, cada rio e cada rufar de tambor lembrasse ao mundo que aqui habita um povo que canta, dança e sonha — e que transforma sua cultura em um espetáculo que ecoa além da floresta. Em 2025, o Festival Folclórico de Parintins chega à sua 58ª edição, reafirmando sua força como o maior evento cultural da Amazônia e um dos mais impactantes do país.
Durante três noites — 27, 28 e 29 de junho —, o Bumbódromo da cidade será tomado por um ritual de arte, fé e identidade, protagonizado pelos bumbás Caprichoso e Garantido. Mas a magia começa muito antes da primeira toada. Nos bastidores, Parintins já se transforma em um grande canteiro de criatividade e mobilização popular, envolvendo costureiras, carpinteiros, artistas plásticos, compositores, coreógrafos e mestres da oralidade — gente da ilha e da floresta, que faz do boi-bumbá sua forma mais pura de expressão.
Ancestralidade e resistência: os temas de 2025
O Caprichoso vem com o tema “É Tempo de Retomada”, criado pelo artista indígena Adolfo Tapaiüna, que propõe uma reconexão com os saberes dos povos originários e com os ciclos da vida e da cura. Sob direção de Rossy Amoedo, o boi azul promete uma apresentação que une inovação cênica e espiritualidade.
Já o Garantido aposta em “Boi do Povo, Boi do Povão”, um enredo que exalta as raízes populares da festa e a luta dos caboclos, ribeirinhos, quilombolas e indígenas pelo direito de existir e brilhar no centro da arena. Sob comando do presidente Fred Góes, o boi vermelho busca resgatar a emoção coletiva que move gerações.
O povo é o espetáculo
A previsão é que mais de 120 mil pessoas circulem por Parintins nos dias do festival, dobrando temporariamente a população da cidade. Os voos estão lotados, os barcos cheios, e o comércio local já celebra um dos períodos mais promissores do ano. A movimentação econômica pode ultrapassar os R$ 150 milhões, fortalecendo empregos, empreendimentos comunitários e investimentos culturais.
Do hotel ao vendedor de tapioca, todos se preparam. O festival gera renda, mas mais que isso: gera autoestima. “Essa é a festa que mostra que o povo da Amazônia tem voz, tem cor, tem cultura”, resume dona Terezinha Lima, artesã da Baixa da Xanda, com 74 anos de história nas mãos e no coração.
Mais que disputa, uma celebração coletiva
A programação paralela já começou. Ensaios gratuitos dos bois ocorrem em Manaus todos os sábados, reunindo milhares de torcedores no Sambódromo. Em Parintins, a tradicional Festa dos Visitantes acontecerá na quinta-feira (26/6), com shows nacionais e arrecadação de alimentos.
O Panavueiro Fest, na orla da cidade, garantirá transmissão ao vivo do festival, feira de sabores locais e atrações culturais para quem não conseguiu ingresso para o Bumbódromo. E em Manaus, a Praça de São Sebastião terá telões para transmitir a festa até altas horas da madrugada.
Cultura que educa e transforma
Por trás da grandiosidade do espetáculo estão os povos da floresta, que por séculos foram silenciados e agora cantam alto sua verdade. O Festival de Parintins é um ato de resistência. É o grito do Marupiara, o canto do Curupira, a sabedoria da Pajé. É política, é arte, é espiritualidade.
É a Amazônia inteira lembrando que existe — e que encanta.
Fotos: Arquivo