Com Rio Negro em cota de risco, Manaus mobiliza estrutura de resposta e reforça compromisso com resiliência urbana
Prefeitura antecipa impactos da cheia com ações emergenciais e medidas preventivas para proteger famílias e minimizar prejuízos ambientais, sociais e econômicos
Atingindo 29,02 metros nesta semana, o Rio Negro alcançou oficialmente a cota de risco de inundação severa em Manaus, colocando a capital amazonense novamente diante de um fenômeno natural que desafia a infraestrutura urbana, a saúde pública e a vida de milhares de famílias ribeirinhas. A Prefeitura de Manaus, atenta ao avanço das águas, adotou uma série de medidas emergenciais e preventivas para proteger a população e reduzir os impactos socioeconômicos e ambientais da cheia.
A situação é acompanhada de perto pela Defesa Civil Municipal (Sepdec), que desde maio coordena uma força-tarefa com mais de dez secretarias, em ações que vão desde o monitoramento hidrológico até a assistência direta às famílias mais afetadas. Bairros tradicionais como Educandos, São Jorge, Aparecida e Presidente Vargas já apresentam alagamentos em ruas e residências.
Mobilização total para proteger vidas
Entre as ações prioritárias, a Prefeitura já iniciou a construção de mais de 400 metros de passarelas provisórias, garantindo o deslocamento seguro de moradores em áreas alagadas. Simultaneamente, estão sendo distribuídos kits de madeira para elevação de casas, medida que visa preservar bens e evitar que as águas danifiquem estruturas residenciais.

Além da mobilidade, a atenção à segurança alimentar e à saúde pública também é central. Famílias em situação de vulnerabilidade estão recebendo cestas básicas, kits de higiene e orientações sanitárias. A Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) intensificou campanhas de prevenção contra doenças associadas à cheia, como leptospirose, dengue e infecções causadas por contato com água contaminada.
“O cuidado precisa vir antes da água bater na porta. É isso que estamos fazendo: nos antecipando aos impactos, colocando a estrutura da prefeitura a serviço da população mais vulnerável”, afirma o prefeito David Almeida.
Um plano construído com base na experiência
As medidas adotadas pela Prefeitura de Manaus são resultado de um aprendizado construído ao longo de anos enfrentando eventos extremos. Em 2021, quando o Rio Negro bateu o recorde de 30,02 metros, o município enfrentou uma das maiores cheias de sua história. Desde então, o monitoramento hidrológico e a resposta integrada entre secretarias têm sido reforçados, com planos de contingência revisados anualmente.
A Defesa Civil realiza inspeções diárias nas áreas de risco, utilizando dados do Porto de Manaus, do Serviço Geológico do Brasil (SGB) e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para alimentar modelos preditivos. O objetivo é tomar decisões assertivas, com base científica, e reduzir o tempo de resposta diante da emergência.
Comunidade no centro da solução
Além das intervenções físicas, a gestão municipal tem promovido uma forte campanha de conscientização, alertando a população sobre o uso da Central 199, que funciona 24 horas por dia para receber ocorrências e direcionar equipes para áreas atingidas.
A Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc) atua junto às famílias cadastradas em programas sociais, priorizando aquelas que residem em palafitas e áreas de várzea. A estratégia combina assistência humanitária e escuta ativa, respeitando a identidade e os modos de vida das comunidades tradicionais.
Cheia é natural, abandono não
O fenômeno da cheia, embora natural no ciclo amazônico, é agravado pela ausência de infraestrutura histórica e pela ocupação irregular de áreas alagáveis. Especialistas alertam que, com as mudanças climáticas, os eventos extremos — como secas prolongadas e inundações recordes — tendem a se tornar mais frequentes e intensos.
“O que está em jogo não é apenas o nível do rio, mas o nosso nível de preparo como sociedade. A cheia é parte da nossa geografia, mas o abandono e a omissão não podem ser. Manaus precisa ser resiliente, humana e inteligente na forma como se adapta ao pulso das águas”, afirma a geógrafa Amanda Pereira, especialista em urbanismo ambiental.
Construir hoje para resistir amanhã
A Prefeitura de Manaus reforça que continuará investindo em infraestrutura de drenagem, educação ambiental, urbanismo sustentável e ações sociais, para garantir que o enfrentamento às cheias não seja apenas reativo, mas planejado e estrutural.
Enquanto o Rio Negro segue subindo — e a cidade se adapta —, cresce também a consciência de que a resposta à cheia não deve ser episódica, mas parte de um pacto contínuo entre poder público e sociedade para proteger vidas, natureza e memória.
Fotos: Divulgação / Semcom
Informações oficiais: Prefeitura de Manaus, Defesa Civil, Porto de Manaus