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PARINTINS: UM JUNHO SEM TURISTA

por Oreni Braga

Oficialmente, o Festival de Parintins começou em 1965, com a rivalidade sadia dos bois Caprichoso e Garantido. Durante esses 55 anos, a festa sempre foi esperada por milhares de amazonenses e simpatizantes de outros estados amazônicos. Com o passar do tempo ganhou adeptos em todo o Brasil e admiradores no mundo.

É uma festa democrática que reúne durante 03 dias, patrões e empregados, azuis e vermelhos (cada um do seu lado, é claro), na Ilha de Parintins, onde Caprichoso e Garantido desnudam e manejam como marionetes, as suas alegorias extraordinárias, apresentando ao público presente e aos telespectadores, um mágico teatro a céu aberto.

Durante todos esses anos o Festival nunca foi cancelado, só houve uma pequena crise em 1982, quando o Caprichoso se negou a concorrer por conta no atraso das verbas da Prefeitura, participando outro boi chamado Campineiro, somente pra cumprir tabela com o Garantido.

O evento tem sido um dos fortes indutores na economia do Município, por envolver expressivo número de trabalhadores locais, seja no trabalho direto com a preparação das agremiações ou na economia solidária que demanda a festa. São artesãos, taxistas, vendedores ambulantes, restaurantes, hotéis e pousadas, tricicleiros e outros que passam a atender uma demanda de turistas que chega, em média, 70% do número de habitantes da Ilha.

Mas, é bom que se diga que o Festival de Parintins também impacta economicamente empresas de Manaus que ganham muito dinheiro nesse período com venda de bilhetes aéreos; aluguel de: aviões, vans, balsas,  barcos; transmissão do evento, entre outros.

Pois é, esse ano a festa foi adiada.  E quando vai ser? Ninguém sabe ainda. Diante desse impasse, a pergunta é: Como estão esses artistas, pequenos empresários locais, artesãos, tricicleiros? Muitos se preparam de um ano para o outro, fazendo as suas economias para vender seus serviços, visando um maior lucro e melhorar seus negócios na festa. Enquanto muitos estão decepcionados porque não irão se divertir, como todos os anos, milhares de homens e mulheres da Ilha que dependem disso, estão preocupados como vão sustentar suas famílias.

Se o evento é considerado Patrimônio Cultural do Brasil e é reconhecidamente a maior Festa Cultural do Amazonas, diante do imprevisto ocasionado pela pandemia do COVID-19, não resta alternativa para o Governo Federal e o Governo do Estado, a não ser destinar parte da verba que seria para custear o evento, aos artistas que resistem ao tempo, as adversidades da vida, mas que não conseguem resistir à falta de pão.


Oreni Braga é Mestre em Gestão e Auditoria Ambiental, Especialista em Ecoturismo, Planejamento e Gestão de Parques e Design de Ecolodges.


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