INFRAESTRUTURA

Obra da Ponte Rio Negro realizada na gestão de Braga, no valor de R$1 bi, daria para pavimentar a BR-319

A recuperação da estrada é vital para escoar a produção da Zona Franca de Manaus (ZFM) em direção aos grandes centros consumidores do eixo Sul-Sudeste

Após passar por dois mandatos como governador do Amazonas (2003-2010) e ter uma relação intensa com os governos Lula e Dilma, o senador Eduardo Braga (MDB), que poderia ter pavimentado a BR-319, ou no mínimo articulado essa obra, mesmo sendo da esfera federal, mudou o discurso e agora diz que “é desumano não asfaltar a BR-319”, conforme publicação feita em suas redes sociais nesta semana.

Em contrapartida, Braga, quando foi governador, optou por investir em uma obra milionária, a Ponte Rio Negro que custou aos cofres públicos do Amazonas R$1 bilhão e foi alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal (STF). Esse valor, daria para pavimentar cerca de 90% da BR-319.

No governo de Braga, inúmeros acidentes ao longo da rodovia ocorrem, além de manifestações das comunidades locais que pediram asfaltamento e pavimentação da rodovia

De acordo com o Ministério da Infraestutura, a repavimentação do Lote C da BR-319 deve custar R$ 165,7 milhões. A obra compreende os trechos entre o Km-198 e Km-250 e a empresa contratada é a Tecon Tecnologia em Construções.

A obra da BR-319 vai tirar a “metrópole da Amazônia” do isolamento rodoviário com o restante do país. A recuperação da estrada é vital para escoar a produção da Zona Franca de Manaus (ZFM) em direção aos grandes centros consumidores do eixo Sul-Sudeste.

Ao longo dos anos, o assunto tem sido uma árdua bandeira de luta para viabilizar a ligação rodoviária do Amazonas ao resto do País. Para especialistas, o argumento, porém, de que o projeto ficou emperrado durante décadas por questões ambientais não convence e está mais ligado a interesses políticos e econômicos.

O investimento nas obras é altíssimo. Cada quilômetro de pavimentação da rodovia BR-319 custará R$ 3 milhões, em média, chegando por volta dos R$ 1,2 bilhão necessários para a conclusão dos 400 quilômetros da rodovia federal. No entanto, esse valor é praticamente o mesmo investido na Ponte Rio Negro, obra realizada pelo ex-governador Eduardo Braga, que poderia ter optado, por uma obra que traria mais benefícios ao Amazonas.

A BR-319 permite o intercâmbio comercial e cultural entre os quatro Estados da Amazônia Ocidental e com o resto do País.

Inaugurada em 1976, a BR-319 tem quase 900 km e é a única ligação rodoviária de Manaus ao resto do país, via Porto Velho (RO). Contra a praxe, foi entregue asfaltada, mas a falta de manutenção fez com que perdesse o pavimento até ficar intransitável, em 1988.

Ponte Rio Negro

O senador já foi investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em inquérito que apurava corrupção passiva, ativa, lavagem de dinheiro e advocacia administrativa. O político foi citado na delação premiada do ex-executivo da Camargo Corrêa e da Odebrecht Arnaldo Cumplido. Segundo o delator, Braga recebeu R$ 1 milhão quando era governador do Amazonas, relativos à construção da Ponte do Rio Negro.

A obra da Ponte Rio Negro custou mais de R$ 1 bilhão ao Estado, o dobro do que era previsto.

No pedido de abertura de inquérito para as investigações constava que, entre os documentos apresentados à procuradoria estava uma planilha que mostra esse valor destinado à Eduardo Braga.

Após analisar o caso, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou o arquivamento dos inquéritos contra os senadores Eduardo Braga e Omar Aziz (PSD), que estava sendo investigado na época também, apontando que a demora da PGR em realizar novas diligências tem causado “injusto constrangimento” aos parlamentares e que as acusações do delator são inconsistentes.

Governo Federal

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também se pronunciou sobre a obra. Ele publicou nas redes sociais que a BR-319 é “missão” de seu governo. “Iniciamos nossa missão de recuperar uma rodovia já asfaltada na década de 70 com o compromisso de torná-la a maior referência em governança ambiental no Brasil”.

Prefeitura de Manaus

O prefeito de Manaus, David Almeida, disse que a crise de abastecimento de oxigênio para atendimento das vítimas da covid-19 é consequência do isolamento do Estado. Enfrentando uma segunda onda com a presença de uma nova cepa da doença, a P1, detectada por cientistas do Instituto de Medicina Tropical da USP, na cidade de Manaus.

“Vocês precisam entender porque Manaus sofre. É que Manaus é cidade-Estado. Nós temos mais da metade da população do Estado morando em Manaus. Todas as UTIs do Estado estão em Manaus”, afirmou o prefeito em entrevista ao Estadão, argumentando que a cidade recebe pacientes de 62 municípios e que o isolamento geográfico da região afeta a chegada dos tubos de oxigênio necessários no sistema de saúde. Almeida já foi infectado pela covid-19 em setembro e perdeu a mãe, de 84 anos, depois de 29 dias de internação por causa da doença.

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